quarta-feira, 13 de julho de 2022

8653. Vaga de calor. Nos bastidores do IPMA, nunca se tinham previsto 48ºC


O i esteve no Centro Operacional de Previsão Meteorológica do IPMA, de onde todos os dias saem as previsões do tempo para Portugal. É um dos quartéis-generais em alturas de crise como a da actual vaga de calor. Ontem já tinham sido batidos recordes de temperatura nas estações de Monção, Vila Real e Viseu. Pela primeira vez, viram 48ºC num modelo para Coruche ou Pinhão e não estão descartados. Não há alarmismo e os avisos são levados a sério. No dia a dia, faltam recursos humanos, contam-nos. 

No ecrã, uma imagem de satélite mostra uma depressão a cerca de 300 km da costa de Portugal Continental, como que um remoinho que puxa uma massa de ar do norte de África. Não tem nome - ao contrário das depressões que causam as tempestades do Outono e Inverno, as depressões associadas a ondas de calor ainda não são baptizadas. Instalou-se ali fruto das dinâmicas da atmosfera, a que tudo se resume quando se fala de bom e mau tempo, e é a razão do calor tórrido que se vive em Portugal e que agrava esta quarta-feira e quinta-feira, com praticamente todo o país sob aviso vermelho. Estamos no Centro Operacional de Meteorologia, nos bastidores operacionais do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, junto ao Aeroporto de Lisboa, de onde saem as previsões meteorológicas e, em alturas de crise, os briefings à Protecção Civil e ao Governo e os avisos à população. 

Lá fora, os termómetros marcam 38ºC e há uma névoa também de poeira, trazida para o continente pela mesma conjuntura atmosférica. Isso e alguma nebulosidade alta explicam porque é que as temperaturas ontem em Lisboa não subiram ainda mais - factores que podem mudar em horas, o que faz com que as previsões nunca sejam 100% certas. 

Recebem-nos Ilda Novo, uma das meteorologistas mais antigas da casa, desde 1979 no IPMA, e Jorge Ponte, de 32 anos,  há um ano no instituto. De duas gerações diferentes, Ilda Novo com 40 anos de experiência e Jorge Ponte um dos mais novos meteorologistas, falam-nos do episódio que estamos a viver com a preocupação de que não haja alarmismos, mas de que os avisos sejam levados a sério - o que na equipa existe a leitura de que não aconteceu em Junho de 2017, quando, como agora, também foi accionado o aviso vermelho no dia da tragédia de Pedrógão Grande. 

Hoje o cenário parece, nesse aspecto, diferente. O primeiro alerta do IPMA sobre o episódio de calor que o país tinha frente foi feito na terça-feira da semana passada, iniciando-se reuniões com a Protecção Civil. Há que perceber, explicam-nos, que as previsões têm maior fiabilidade quando são feitas a três ou quatro dias, a partir daí os modelos a que recorrem, de maior e menor precisão, mostram trajectórias que podem ser muito diferentes. 

A situação actual é um bom exemplo: até dia 15, a próxima sexta-feira, os cenários convergem na leitura de que as temperaturas vão estar especialmente elevadas, mas a partir daí, sendo o cenário mais provável uma descida, há modelações que sugerem que podem manter-se elevadas e outras que indiciam uma descida maior que traria tempo fresco, duas realidades distintas. Vai depender da evolução da depressão: deslocando-se sobre o continente, por exemplo, o efeito será uma descida da temperatura, havendo a previsão de que irá evoluir para nordeste, podendo eventualmente desfazer-se. “A longo prazo, é muito difícil fazer uma previsão. O que dizemos é que a partir de dia 15 há uma tendência para diminuir a temperatura, mas não está descartado que possa continuar assim. Neste cenário, o dia mais quente seria esta quarta-feira, podendo quinta-feira ainda ser muito quente no interior”, explica Jorge Ponte, admitindo que o famoso “efeito da borboleta” descrito pelo meteorologista Edward Lorenz - o bater das asas de uma borboleta num local distante pode provocar um cataclismo algures - é mesmo assim quando se fala das correntes de ar e fenómenos atmosféricos. Aprende-se no curso e vê-se no dia a dia. “A atmosfera é um sistema caótico”, resume Ilda Novo. “Estamos a viver uma situação extrema, mas um pequeno factor pode levá-la para um lado ou para o outro. É como os acontecimentos da nossa vida. Se calhar, quando recuamos 20 anos, conseguimos perceber que um pequeno pormenor na nossa vida, não ter virado naquela rua ou ter conhecido aquela pessoa, podia ter feito com que a vida tivesse sido totalmente diferente”, compara Jorge Ponte.

Leia o artigo completo na edição impressa do jornal i.

Marta F. Reis

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Fonte: ionline


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