O especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos defendeu este domingo a necessidade de reduzir o número de voos durante a noite em Portugal para atenuar a contribuição da aviação para o aquecimento global do planeta.
Segundo um estudo de peritos da Universidade de Reading, no Reino Unido, publicado na revista Nature, os rastos deixados no céu pelos aviões têm um maior impacto no aquecimento global do planeta quando se realizam de noite e no Inverno. «Esses investigadores conseguiram provar que os rastos dos aviões, que não são mais do que condensação de água, absorvem a radiação ultravioleta [calor ] emitida pela superfície da terra e contribuem para o aquecimento global», explicou Filipe Duarte Santos.
Aquele calor seria perdido na atmosfera caso não fosse absorvido pelas «nuvens» que são formadas pela passagem de um avião. De acordo com dados da Nav (responsável pelo controlo do fluxo do tráfego aéreo nas regiões sob responsabilidade portuguesa, para evitar colisões), a distribuição média horária em Junho último em todo o país indica que entre as 20:00 e as 06:00 cruzaram o espaço aéreo nacional mais de 250 aviões. No total, mais de 30 mil aviões cruzam todos os meses o espaço aéreo português, entre voos civis e militares, segundo a Nav.
Outro dos efeitos que os peritos da universidade de Reading conseguiram provar é que os rastos dos aviões também reflectem a radiação solar que absorvem, diminuindo assim o primeiro efeito de aquecimento global do planeta. Contudo, «este segundo efeito não se verifica durante a noite, nem no Inverno, daí que a contribuição da aviação para o aquecimento do planeta seja maior durante esses períodos», explicou Filipe Duarte Santos.
Mas a contribuição dos aviões para o aquecimento global do planeta não decorre somente dos rastos deixados para trás nos céus. «Os aviões civis funcionam com combustível fóssil [fuel] e libertam dióxido de carbono, aumentando o efeito de estufa», adiantou Filipe Duarte Santos.
O impacto da aviação no clima está a aumentar e a Comissão Europeia, numa comunicação ao Conselho e ao Parlamento europeus, em Julho do ano passado, apontou um crescimento anual de 4,3%. «Não obstante a redução de 5,5%, de 1990 a 2003, das emissões totais da União Europeia controladas ao abrigo do Protocolo de Quioto, as emissões de gases com efeitos de estufa da aviação internacional da União Europeia aumentaram 73%, ou seja, registaram um crescimento anual de 4,3%» , lê-se nessa comunicação.
O ambientalista Francisco Ferreira, da associação Quercus, ressalvou que o peso da aviação civil no total de emissões do sector de transportes é de apenas 2,1%. «Mas, embora o peso da aviação seja reduzido, o seu crescimento acelerado prejudica os progressos noutros sectores», alertou este especialista.
A Comissão Europeia calcula que, se esse crescimento se mantiver nos níveis actuais, as emissões de voos internacionais com partida dos aeroportos da União Europeia aumentarão, até 2012, 150% face a 1990. «Vai ser um problema muito difícil no futuro. Estas emissões têm de ser incluídas no acordo pós-Quioto, assim como no comércio de emissões», que actualmente abrange apenas as indústrias, adiantou Francisco Ferreira.
O protocolo de Quioto abrange apenas as aterragens e descolagens, deixando de fora todos os voos que cruzam o espaço aéreo de um país sem tocar em terra e que contribuem da mesma forma para o problema das alterações climáticas. «Já está quase como dado adquirido que as emissões da aviação vão entrar no comércio de emissões», adiantou aquele ambientalista.
Em Dezembro do ano passado, os ministros do Ambiente da União Europeia apoiaram a inclusão do sector da aviação no sistema de comércio de emissões, que impõe à indústria o respeito de determinados valores de emissões de gases poluentes.
FONTE: Diário Digital / Lusa 23-07-2006
FONTE: Diário Digital / Lusa 23-07-2006
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