terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

849. Coimbra: Especialista critica construção sem regras

Coimbra é uma cidade exposta a vários riscos naturais, mas a maior parte deles resulta do mau ordenamento do território, concluiu um debate sobre o tema com a participação de especialistas. Intervindo no debate «Incêndios, inundações e outros riscos na cidade: que prevenção», na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (UC), o professor Alexandre Tavares afirmou que hoje se está “a assistir a um reflexo do que foi a ocupação da cidade” a partir da década de 70.
“Em 15 anos, de 1985 até 2000, a expressão do espaço transformado, que era de 42 quilómetros quadrados, passou para 90 quilómetros quadrados, quebrando relações com o meio físico e provocando alterações em todo o concelho”, sublinhou o engenheiro geólogo. Para alterar o panorama, Alexandre Tavares revelou que a autarquia assinou um protocolo com o departamento de Ciências e Letras da UC para a elaboração de uma cartografia que defina as zonas de risco da cidade. As grandes movimentações de terras, provocadas recentemente pela construção de duas grandes superfícies na cidade, e a sua colocação “em locais não naturais” foram também criticadas pelo engenheiro geólogo.
Para o geógrafo Lúcio Cunha, da Faculdade de Letras da UC, os principais problemas que se têm registado em Coimbra - inundações, incêndios, aluimentos - “estão no crescimento da cidade para áreas de risco e no abandono das áreas rurais e dos pequenos espaços agrícolas”. Salientando que os problemas registados em Coimbra devem ser vistos à escala nacional, num contexto de transformação da sociedade, Lúcio Cunha defendeu a consolidação do tecido urbano da cidade antes de continuar a expandir-se.
Segundo o catedrático, as questões das inundações “resolvem-se facilmente” se forem respeitados os leitos de cheias, mantidos os espaços verdes na cidade, e limpas as ruas e as sarjetas.
O problema dos incêndios é, para Lúcio Cunha, “uma questão muito difícil de resolver a curto e médio prazo”, apontando a falta de capacidade das autarquias e dos pequenos proprietários para limpar as matas como um dos entraves à resolução daquele flagelo. “A nova legislação sobre defesa da floresta é óptima, mas está desfasada do país real”, concluiu.
Por seu turno, o professor José Manuel Mendes apelou a um maior envolvimento dos cidadãos nas questões de segurança e defendeu a criação de uma estrutura de protecção civil mais integrada, através de “um sistema mais democratizado e orientado para a prevenção, em vez do socorro”.

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Fonte: Jornal Primeiro de Janeiro
Imagem: Christian Schmidt

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