Por Arsénio de Pina
Já estou um tanto desanimado de bater no velhinho, como se costuma dizer, na teimosia de falar em protecção do nosso meio ambiente, em ecologia, sem ver efeitos positivos da parte dos que têm poder para modificar algo.
Acabámos de apresentar, ao longo da série Sabia Que?..., vários tipos de poluição e algumas eco-tácticas prevenindo aquela e utilizando estas na sua minimização ou eliminação. Certamente que os leitores se deram conta de que a utilização abusiva do petróleo e seus derivados (incluindo os plásticos) complicou desmedidamente a situação. Muito recentemente, o ex-vice presidente dos EUA, Al Gore, demonstrou, num documentário pertinente, o que nos reserva o futuro se continuarmos a trilhar o mesmo caminho rumo ao desastre de utilização irracional dos combustíveis fósseis. Infelizmente, poucos são os governantes que se impressionam com acontecimentos a médio e longo prazo, servindo-se de evasivas e de ciência enviesada para não tomar as medidas absolutamente necessárias e recomendadas, hipotecando, dessa maneira, o futuro das gerações vindouras.
É bem de ver que não escrevo para eles, esses governantes poderosos sem escrúpulos, que nem se dão ao trabalho de ler o que os seus escribas malquistos também contestam, mas para o cidadão comum, o qual, fazendo parte da sociedade civil activa, poderá e deverá influenciar a mudança de rumo pelos meios de que já fizemos eco noutros artigos.
Vi, recentemente, num documentário televisivo, algo que me impressionou sobre o crescimento/desenvolvimento da China - como se sabe a um ritmo galopante - mas cujos efeitos negativos sobre o meio ambiente vem comprometendo a saúde e vida dos seus habitantes a tal ponto que, seguramente, irá frenar tal crescimento, dada a poluição maciça e criminosa de rios, lagos, lagoas, poços, nascentes e terreno, sem falar no uso abusivo de pesticidas altamente tóxicos contendo metais pesados que provocam doenças graves irreversíveis, desaparecimento de peixes e outros animais de rios, lagos, do campo e contaminando fontes de água potável e géneros alimentícios. Esse frenesim de crescimento desenfreado na modalidade iniciada de capitalismo selvagem está conduzindo a China por maus caminhos e há que lhe pôr cobro sob pena desse “continente” retornar à miséria de tempos não muito recuados.
Comecei por falar no petróleo e parece que mudei de ondas. Desviei-me um tanto, é certo, mas o presidente da Sociedade Petrolífera Italiana (a quinta do mundo), Paolo Scaroni, perito na matéria, irá ajudar-nos a retomar o assunto, servindo-nos de um artigo publicado no Financial Times e transcrito pelo Jeune Afrique (a minha revista de cabeceira), que nos informa de que, não obstante o crescimento económico fabuloso da China, ela só consome, actualmente, 8% do petróleo mundial, enquanto que os EUA, 25% e a União Europeia (U.E.) 18%. Um chinês consome, por ano, 2 barris de petróleo, um europeu, 12, e um americano, 26. Imagine-se o estado do meio ambiente se a China consumisse, ou quando vier a consumir tanto quanto os EUA! Quem nos livrará do usufruto desse direito tanto da China como da Índia? Esperemos que tal nunca venha a acontecer e que, tanto os EUA como a U.E., se decidam a poupar petróleo e a investir a sério em fontes energéticas alternativas renováveis.
Convido-vos a meditar numas continhas feitas por Paolo Scaroni para se avaliar o que se poderia economizar utilizando veículos mais económicos - que os há e poderia haver muito mais económicos, por existir tecnologia para o efeito, a qual, entretanto, não agrada às multinacionais do petróleo que querem é vender o máximo possível e obter lucros chorudos. Há motores adaptados para funcionar com gás, bio-diesel (obtido de óleos vegetais já utilizados em frituras), álcool (obtido de cana sacarina, beterraba e fermentação de frutos e cereais), e, até, funcionando alternadamente a gasolina e electricidade, sem falar na utilização do hidrogénio como combustível (em fase experimental promissora), mas os investimentos e estímulos para essas formas de energia alternativa protectoras do meio ambiente (da vida) são bem limitados e obstaculizados pelas grandes multinacionais do petróleo. Não é sem razão que se diz que tais multinacionais têm tamanho poder económico que põem Estados entre parêntese, promovendo o Estado-mínimo, aquele que lhes permite toda a casta de patifarias em benefício próprio.
Os carros americanos consomem, em média, 1 litro de gasolina por cada 7 Km percorridos, e os europeus chegam a 13 Km com a mesma gasolina. Se os americanos utilizassem os mesmos carros que os europeus, haveria uma economia de 4 milhões de barris de petróleo por dia (b/d), o equivalente à produção do Irão, o terceiro produtor mundial de petróleo. Se todos os carros americanos, europeus, australianos, japoneses utilizassem o mesmo tipo de economia, haveria uma economia de 10 milhões de b/d, o equivalente à produção da Arábia Saudita, o primeiro produtor mundial de petróleo, e mais do que os consumos da China e Índia juntos.
Isso no que diz respeito ao consumo de gasolina por automóveis, mas o exagero americano também se situa no aquecimento durante o inverno e arrefecimento no verão (ar condicionado). Se os ocidentais utilizassem veículos de consumos razoáveis, os americanos adoptassem os padrões europeus de aquecimento e de refrigeração, ter-se-ia uma economia de 15 milhões de b/d, o mesmo é dizer, mais ou menos 20% do consumo mundial.
Estes dados convencem-nos da necessidade e possibilidade de economia de energia petrolífera, mas, infelizmente, os países ricos - aqueles que mais consomem petróleo e poluem o meio ambiente - têm meios para pagar o petróleo mesmo que o preço do barril chegue a 200 dólares, e nós, os subdesenvolvidos, é que nos tramamos e sofreremos as consequências sem nenhuma culpa no cartório. O documentário de Al Gore, embora impressionante e baseado em estudos sérios que a maioria dos cientistas que se debruçam sobre a poluição do meio ambiente e efeito de estufa provocados pelos gases de escape e chaminés de fábricas aprova, não irá fazer com que os ricos diminuam o consumo do petróleo, a não ser quando começarem a ver desaparecer partes de cidades e países pela subida do nível do mar, como previsto, o que será bem tarde, já que nem se impressionam com as alterações climáticas que ninguém já contesta - ciclones frequentes, tufões de rara violência, períodos de seca e inundações e incêndios de florestas que vêm devastando largas regiões do mundo.
O uso racional do petróleo, além de proteger o nosso meio ambiente, permitiria que se pudesse desenvolver outras soluções energéticas alternativas renováveis - que existem - sem grandes aflições e sofrimento. Mas, uma coisa é a racionalidade e o bom senso e outra, bem diversa e antagónica, o poder e ganância daqueles que só pensam no lucro imediato com o mínimo de despesas. O nosso mundo está realmente complicado e perigoso por estes o dominarem, restando a nós outros, os justos, sensatos, amantes da natureza e explorados sem piedade, poucos meios de luta e recursos limitados de sobrevivência.
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Fonte:
A Semana online
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1 comentário:
amei seus argumentos,os dados e as analogias feita!seu texto foi perfeitamente bem estruturado.e se autoridades se dessem o minimo a essa questao ambiental camiariamos para preservaçao ambiental c maior enfase q na verdade precisa.
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