terça-feira, 3 de julho de 2007

1102. Pescadores são prejudicados com o aquecimento global

Sinonimo de grandes animais e savanas, o Quénia também é famoso por seus recifes de corais. Mas funcionários do governo alertam que as crescentes temperaturas do mar, devido à mudança climática, estão prejudicando estas formações e a diversa vida marinha que abrigam.
"O homem e a mulher comum podem não ter assumido a mudança climática. Mas todos se dão conta da transformação que ocorre na água. Os peixes estão desaparecendo. Os recifes de corais, que são como as selvas do mar, estão seriamente afectados", disse o subdirector de Programas Costeiros e Marinhos da Autoridade Nacional de Administração do Meio Ambiente, Ali Mohammed.
"É o mundo industrializado que precisa minimizar as suas emissões de gases causadores do efeito estufa. A contribuição da África para a mudança climática é insignificante, embora esteja muito afectada", disse Mohammed à IPS se referindo ao dióxido de carbono e ao metano, que entram na atmosfera em parte pela queima de combustíveis fósseis. Estas emissões absorvem e prendem o calor do sol. Muitos cientistas afirmam que as concentrações desses gases provocam o aumento da temperatura da Terra, causando transformações no clima.
Em circunstâncias normais os recifes são mantidos pelas algas que contêm. Estas minúsculas criaturas usam a luz do sol e o dióxido de carbono dos corais para produzir substâncias ricas em energia que alimentam o coral e outras formas de vida marinha. Mas temperaturas do mar mais elevadas alteram essa simbiose, fazendo com que as algas, que também dão cor aos corais, sejam expulsas. Isto faz com que o coral perca a cor e, portanto, não possa produzir energia e, em geral, o resultado é sua morte.
O potencial destrutivo da perda de algas foi ilustrado em 1998, quando uma grave ocorrência do fenómeno climático El Niño fez com que 80% dos recifes do Quénia ficassem descoloridos, segundo Mohammed. O El Niño está ligado à mudança de temperatura do oceano Pacífico, que prejudica severamente o clima noutras partes do mundo, como um aumento das temperaturas das águas quenianas a níveis jamais registados. Embora haja sinais de que El Niño ocorra há muitos anos, cientistas investigam se o fenómeno foi potencializado pelo aquecimento global.
Cerca de 90% dos recifes em águas quenianas morreram durante o El Niño de 1998, que causou vítimas em cadeia entre várias espécies de peixes. Esta perda de diversidade biológica foi sentida pelos quenianos, quando o reduzido número de peixes se traduziu em menor pesca para as comunidades costeiras, 70% delas dependentes extensivamente da pesca para sobreviver, informou a Sociedade para a Conservação da Natureza, com sede nos Estados Unidos.
Segundo Mohammed, estas comunidades não têm os recursos necessários para escapar da mudança destas circunstâncias. "As reservas marinhas do Quénia estão dominadas por pescadores de pequena escala com uma capacidade limitada. Eles não possuem meios para ir além dos mangues e corais, e não podem se aventurar em mar aberto, onde há mais peixes", afirmou.
Segundo o activista, as perdas dessas reservas foram significativas, mas não pôde fornecer números concretos. Segundo os comentários do pescador tanzaniano Rajab Mohammed Sosl, as comunidades costeiras da África oriental continuam sofrendo pelo aumento das temperaturas marinhas.
"A redução da captura de peixes afectou seriamente o meu negócio. Embora o fornecimento esteja caindo, o preço do pescado sobe. As pessoas a quem habitualmente vendo peixes não podem pagar estes preços altos, e isto faz com que me seja cada vez mais difícil ganhar a vida", afirmou a uma publicação do Fundo Mundial para a Natureza. A destruição de recifes também é uma ameaça para o turismo marinho no Quénia, que representa mais de dois terços do sector, segundo dados do governo. "A maioria dos turistas vêm por causa da beleza e diversidade de nossa vida marinha", afirmou Mohammed. O turismo é a segunda actividade geradora de divisas estrangeiras no Quénia, depois da agricultura.
As temperaturas globais aumentaram, aproximadamente, 0,6 grau desde meados do século XIX, e prevê-se aumento adicional entre 1,5 e 5,8 graus até 2100. Os perigos da mudança climática para os recifes de coral foram apontados pelo países signatários do Convénio sobre a Biodiversidade, adoptado na Cúpula da Terra de 1992, no Rio de Janeiro. Uma reunião destes Estados realizada em 2000 em Nairobi adoptou várias medidas para salvaguardar os recifes do planeta, incluindo estudos para determinar a vulnerabilidade das espécies coralinas ao aquecimento global e impedir seu descoloramento.
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