quinta-feira, 4 de outubro de 2007

1277. Autarcas de Mirandela e de Murça apreensivos com barragem de Foz Tua por causa das vinhas e ligações ferroviárias

O presidente da Câmara de Mirandela, José Silvano, sustentou hoje que a decisão do Governo de construir a barragem de Foz Tua vai acabar com o que resta do caminho-de-ferro no Nordeste Transmontano. O autarca social-democrata considera "incompreensível" que o Governo decida avançar com esta barragem, que vai submergir parte da linha do Tua, tornando aquela ferrovia inútil. A barragem do Foz Tua, localizada na foz do rio Tua, que integra o Plano Nacional de Barragens hoje apresentado pelo ministro da Economia, representa um investimento de 177 milhões de euros e tem uma capacidade instalada de 234 megawatts (MW).
Mais incompreensível ainda para o autarca é que esta decisão surja no momento em que uma empresa do Estado, a Refer, está a investir "largos milhares de euros" para reparar o troço acidentado da linha, em 12 de Fevereiro, em que morreram três pessoas. Os cerca de 60 quilómetros que restam da linha do Tua, que liga Mirandela ao local com o mesmo nome do rio, são a única ligação ferroviária do Nordeste Transmontano. Esta linha liga a região ao litoral, no Porto, ao cruzar-se no Tua, com a linha do Douro.
A barragem agora anunciada está prevista para aquele local e, segundo o autarca de Mirandela, se se mantiveram as intenções iniciais de quota máxima, vai submergir os carris. José Silvano considera que o Nordeste Transmontano ficará sem aquela que, no futuro, poderia ser a única ligação estratégica ferroviária ao litoral, além do potencial turístico da linha. O autarca referiu ainda que Mirandela "não beneficiará em nada desta barragem, nem mesmo do espelho de água, que termina no limite do concelho". José Silvano lamentou ainda ter sabido pelo Comunicação Social da decisão do Governo de construir a barragem e que os autarcas não tivessem sido consultados sobre este processo.
Também o presidente socialista da Câmara de Murça afirmou estar "apreensivo" com a construção da barragem do Tua porque ela vai afectar vinhas durienses no concelho. O autarca reconhece, no entanto, que a barragem também poderá "trazer maior riqueza à região". João Teixeira, afirmou à Lusa que a sua apreensão "deriva da dimensão e da área que a barragem do Tua poderá alagar".
Acrescentou que o empreendimento vai submergir 50 por cento das vinhas das aldeias de Sobreira e Porrais, inseridas na Região Demarcada do Douro, que disse serem o "único sustento de muitas famílias". No entanto, acrescentou que "se se tratar de uma obra irreversível, também poderá trazer maior riqueza à região".
João Teixeira reivindicou, por isso, o pagamento dos terrenos ao "metro quadrado", pois esta é uma zona de minifúndio, em que a maior parte dos agricultores tem pequenos terrenos. "Exigimos uma compensação justa para os agricultores e também uma contribuição anual, igualmente justa, para o município", sublinhou o autarca.
As duas barragens previstas no plano do Governo para o distrito de Bragança [Foz Tua e Sabor] são consideradas pelo presidente da associação empresarial NERBA "um estimulo" para o tecido empresarial e económico regional. Na opinião de Rui Vaz, a dimensão destas obras e o período de tempo, mais ou menos longo, para a sua execução acabam sempre "por ter influência na economia local". "Todo o investimento público acaba por mexer, directa ou indirectamente, com as empresas e obras como estas influenciam directamente a economia local", considerou o empresário.
O presidente do NERBA, mostrou-se "satisfeito" com os investimentos anunciados, que considerou virem de encontro ao que a região tem defendido. "Passamos a vida a defender que devemos aproveitar as nossas potencialidades endógenas, nomeadamente as energias renováveis e produção de energia limpa", frisou. Para Rui Vaz, as duas barragens constituem "uma mais valia". "Tudo que seja criar postos de trabalho e riqueza é importante", afirmou o presidente do NERBA.
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