sexta-feira, 25 de abril de 2008

1724. Soajo: Pastor há 17 anos "despediu-se" das suas 320 cabras cansado dos ataques dos lobos

Venâncio passou 17 anos a subir a serra do Soajo à procura de pasto para as suas 320 cabras, mas agora arrumou o cajado, muito por causa dos lobos, que volta e meia lhe dizimavam o rebanho. Sempre que via um animal meu morto pelo lobo, sentia desgosto, revolta e desânimo. Uma tristeza muito grande. A gente ganhava afecto aos animais, pois era com eles que eu passava todos os dias do ano. Quando perdia algum, ficava com o coração negro como o carvão", confessou hoje o pastor, em declarações à Lusa.
Venâncio Domingues era pastor há 17 anos e fazia diariamente mais de seis quilómetros para cima e para baixo com o seu rebanho, em busca dos melhores pastos. "Saía de manhãzinha e só regressava depois de o sol se pôr. E sempre dava graças a Deus quando contava as cabras e via que não faltava nenhuma", disse.
A situação dos pastores do Soajo, uma freguesia de Arcos de Valdevez, inserida no Parque Nacional da Peneda-Gerês, agravou-se no Verão de 2006, quando os incêndios destruíram cerca de 3000 hectares de monte local, reduzindo a cinzas os pastos dos animais. Com falta de pasto, os animais foram ficando nos currais, alimentados por feno muitas vezes importado de Espanha. Acossados pela fome, os lobos começaram a aproximar-se cada vez mais das habitações, à procura das suas presas.
"Desde Novembro desse ano até Abril de 2007, os lobos comeram-me mais de 20 cabras, e uma das vezes foi a 300 metros da minha casa. Houve também ataques de lobos junto ao cemitério. Foi uma coisa horrível", lembra Venâncio Domingues.
Os montes entretanto voltaram a cobrir-se de pasto verde, mas os lobos parecem ter aprendido o caminho das habitações e, como garante o presidente da Junta do Soajo, Manuel Barreira Costa, continuam a atacar "em força", dentro das propriedades.
Casimiro Fernandes, dono de 60 cabeças de gado, também aponta o dedo aos responsáveis do PNPG pelos "intoleráveis" atrasos no pagamento das indemnizações dos prejuízos causados pelos ataques dos lobos. "Eles deviam atribuir um prémio anual, por animal, para se acabar, de uma vez por todas, com esta situação. Serem os criadores de gado a alimentar os lobos e ainda obrigá-los a passar uma carga de trabalhos para receberem aquilo a que têm direito não é mesmo nada justo", insurgiu-se.
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