terça-feira, 5 de agosto de 2008

1934. A crise mundial dos alimentos e o mercado capitalista (Parte 2)

Apesar de ainda não unificados conscientemente, a resposta da classe operária internacional vem mostrando, à escala mundial, o carácter objectivamente essencial de suas lutas e reivindicações. Greves e protestos inundam o mundo.
Os média sul-coreanos divulgaram um caso raro de protesto de rua na Coreia do Norte em Março de 2008 contra a redução de 60% da ração distribuída internamente e a execução de três norte-coreanos que cruzaram a fronteira ilegalmente para a China em busca de comida. Na China, há relatos de greves contra donos de fábricas que estão aumentando o preço da comida nas lojas da firma. A inflação dos alimentos alcançou 21% desde o início de 2008, de acordo com o Bureau Nacional de Estatística da China. Reporta-se que o preço do arroz está razoavelmente estável graças a subsídios do Estado, mas os preços da carne suína, do óleo de cozinha e dos legumes subiu 55, 34 e 30%, respectivamente, em 2007.
O primeiro de Maio foi acompanhado de actos em grande-escala contra a inflação por trabalhadores ao redor do sudeste da Ásia. Milhares marcharam ao palácio presidencial de Manila nas Filipinas, o maior importador de arroz do mundo, onde os preços duplicaram nos últimos meses. Quinze mil trabalhadores marcharam em Jacarta, na Indonésia, no meio de aumentos absurdos no arroz, óleo e produtos de soja. Na Tailândia, 2.000 trabalhadores protestaram do lado de fora dos edifícios governamentais na capital, declarando nos seus cartazes: “Altos preços do arroz, baixos salários - Como podem viver os trabalhadores?”
Na América, mulheres em Lima bateram panelas do lado de fora do congresso peruano no 1o de Maio para exigir mais subsídios governamentais para restaurantes colectivos para os pobres. No dia 13 de Março, os manifestantes bateram panelas em frente ao Banco Central de El Salvador para protestar contra os preços em ascensão, no meio da notícia de que a cesta básica agora custa $160, sendo que custava $128 em 2004. O salário mínimo é $162.
Já em Fevereiro de 2007, a Cidade do México presenciou um acto de 75.000 por causa do preço das tortilhas de milho.
No dia 12 de Abril, o governo haitiano caiu após 10 dias de protestos massivos contra o aumento de 40% nos alimentos e contra o facto de o arroz ter duplicado de preço. Estes protestos transformaram-se em confrontos violentos com as forças policiais e as “tropas de paz” da ONU que ocupam o país, originando pelo menos cinco mortos e vários soldados feridos.
No Médio Oriente, os preços crescentes dos alimentos levaram à explosão de vários conflitos sociais e políticos que já esquentavam por um longo tempo. Revoltas agitaram o sul do Iémen no início de Abril, com o governo utilizando tanques contra os manifestantes que reivindicavam emprego e aumento nos salários em al-Dalea. Os preços do trigo no país duplicaram no último ano e o arroz e o óleo de cozinha aumentaram 20%.
Trabalhadores estrangeiros dos sectores de petróleo e da construção na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos fizeram greves sem precedentes em Março de 2008 por aumento nos salários, no meio dos preços crescentes do aluguer e dos alimentos. Mais do que 600 destes trabalhadores foram presos e deportados dos Emirados Árabes no início de Abril.
A erupção da luta entre as facções sectárias no Líbano no início de Maio seguiu-se e foi influenciada por uma greve geral chamada pelos sindicatos contra a inflação dos alimentos e outros produtos.
No Egipto, uma greve dos trabalhadores da indústria têxtil por causa do preço dos alimentos em Mahalla al-Kobra, em 6 de Maio, tornou-se um confronto com a polícia, que os forçou a retornarem ao trabalho. A polícia também prendeu activistas que convocavam uma greve geral no Cairo, mas, de acordo com os médias internacionais, várias escolas e universidades estavam vazias. Os trabalhadores reclamavam de longas filas para obter o pão subsidiado pelo Estado, uma vez que o pão não-subsidiado custa de 10 a 12 vezes mais caro. Outros itens essenciais como o arroz e o óleo de cozinha dobraram de preço.
No sul da Ásia, uma greve geral contra os preços crescentes dos alimentos atingiu a metrópole indiana de Calcutá no dia 21 de Abril. No dia 12 de Abril, 10.000 trabalhadores têxteis revoltaram-se contra os altos preços da comida em Fatullah, perto de Dhaka em Bangladesh, um importante importador de arroz. No Afeganistão, trabalhadores bloquearam a principal estrada de Jalalabad-Kabul para exigir preços mais baixos dos alimentos no dia 22 de Abril.
Na Europa, os crescentes preços dos alimentos essenciais como o macarrão, o pão e os lacticínios fomentaram greves neste ano, incluindo o sector da saúde escandinavo e a indústria do varejo francesa. Um acto de 1º de Maio na cidade russa de Chelyabinsk atraiu 14.000 trabalhadores, que entoaram “os salários devem aumentar acima dos preços.”
Na África subsaariana, os protestos já atingiram o Moçambique, Senegal e a Costa do Marfim nos últimos meses. Os sindicatos da Nigéria e África do Sul fizeram greve em Maio contra o aumento dos preços dos alimentos e da electricidade. Os protestos mais noticiados deste ano foram os actos de Fevereiro no Camarões e no Burkina-Faso, que deixaram 40 e 5 mortos, respectivamente, após confrontos com as forças de segurança do Estado.
Alex Lantier
(Continua)
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