terça-feira, 29 de julho de 2008

1920. A crise mundial dos alimentos e o mercado capitalista (Parte 5)

Projectos para triplicar a produção de etanol à base de milho americano para 35 mil milhões de galões em 2017, consumiriam ainda mais os suprimentos de alimentos mundiais. Estes projectos avançarão, apesar do etanol à base de milho ser desprezível para produção de energia e para benefícios ecológicos.
Como o milho factura preços mais altos graças aos subsídios do etanol e a região de plantio de milho se expande para o norte (devido ao aquecimento global), a substituição do trigo pelo milho nas fazendas de plantação está a aumentar constantemente. Segundo o Washington Post, é esperado que os agricultores americanos plantem 64 milhões de acres de trigo neste ano, uma quebra de 88 milhões de acres relativamente a 1981.
Falando do preço da espiga de trigo em Fevereiro de 2008, David Brown, director da Associação Americana dos Padeiros, disse ao Post: “Com um estoque baixo e um dólar fraco, as coisas voam das prateleiras mais rápido do que elas costumavam voar. Não é suficiente retomar apenas os acres produzidos para repor os estoques americanos.”
Pescadores e produtores de lacticínios de toda Europa estão fazendo greves e protestos conforme o aumento do combustível e insumos os levam a perdas massivas, enquanto os preços pagos a eles por grandes comerciantes de alimentos estagnam-se.
Especialmente para os pequenos agricultores, a distância entre o aumento dos preços dos fertilizantes e sementes e os preços do mercado para suas mercadorias significa a ruína financeira. Na terminologia anti-séptica da ciência social burguesa, o IFPRI observa que isto “impede a reacção da produção” a preços mais altos e aumenta a procura por alimentos. Na Índia, o campesinato endividou-se duramente com o agronegócio, e dezenas de milhares de agricultores cometeram suicídio ao longo da última década.
Com pouco incentivo financeiro para cultivar cereais básicos, os produtores agrícolas mundiais, como um todo, estão a colher muito pouco das suas plantações. Comerciantes de cereais devem, portanto, imergir nos estoques de reserva para atingir a demanda.
Segundo os dados de Abril de 2008 do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), de 2004 para 2008 os estoques de trigo caíram de 151 Mt para 110 Mt; estoques mundiais de cereais como milho, aveia, centeio e cevada caíram de 179 milhões de toneladas para 129 milhões de toneladas. Os estoques de arroz aumentaram de 74.4 milhões de toneladas em 2004 para 76.5 milhões de toneladas em 2005, mas desde então caíram para 75.2 milhões de toneladas.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) escreveu: “A relação entre o decréscimo dos estoques mundiais de cereais em 2007/08 e a utilização mundial de cereais, tende a cair para 18.8% na estação seguinte, a mais baixa em três décadas. Apesar do aumento da produção mundial de trigo em 2007, as ofertas não são suficientes para satisfazer a procura sem uma forte redução dos estoques. A previsão para o índice do trigo é cair para 22.9%, bem abaixo dos 34% observados durante a primeira metade da década. O índice para os cereais como milho, aveia, centeio e cevada está colocado em apenas 14.5%... O estoque está colocado em 23.4%, um nível muito baixo também.”
As grandes empresas, controlando os principais insumos ou mercados e tendo amplo conhecimento das condições de comércio, estão lucrando imensamente. As principais, entre essas empresas são grandes varejistas. Em Fevereiro de 2008 numa teleconferência com investidores, o chefe financeiro do Wal Mart, Tom Schoewe disse que o recorde trimestral de vendas e o lucro de 4,1 mil milhões de dólares vieram praticamente do aumento dos preços no sector alimentício, particularmente dos preços dos lacticínios. Schoewe, de acordo com Bloomberg News, “recusou-se a quantificar o impacto” do aumento dos preços dos alimentos.
O Carrefour da França, o segundo maior varejista do mundo, anunciou o lucro recorde do seu primeiro quadrimestre: 1,87 mil milhões de euros. O seu CEO, José Luis Durán, disse aos analistas que a baixa confiança dos consumidores estava a começar a afectar a venda de produtos não alimentares, mas essa queda foi em grande parte compensada por um aumento do número de vendas de alimentos.
A empresa de agronegócios Monsanto, que fornece sementes modificadas para agricultores dos EUA e do mundo, também emitiu a informação do aumento dos seus lucros líquidos: de 255 milhões para 993 milhões de dólares entre 2005 para 2007. Entre as empresas de agronegócio que produzem sementes, a Monsanto é frequentemente apontada para aquisição da Delta and Pine Land Company, aquela que criou as chamadas “sementes terminator”, que crescem em plantas com grãos estéreis. Isso poderia forçar os agricultores a utilizarem exclusivamente empresas de agronegócios para o fornecimento de sementes. A Monsanto afirma que não comercializará o produto.
A gigante do agronegócio Archer Daniels Midland (ADM) relatou um aumento de 42% nos lucros no primeiro trimestre de 2008, para 517 milhões de dólares. A CEO da ADM, Patricia Woertz, comentou: “A volatilidade nos mercados de commodities apresentou oportunidades sem precedentes. Mais uma vez, a nossa equipe alavancou a flexibilidade financeira e a base dos activos globais para capturar oportunidades de entregar valor accionista” – Ou seja, para colher enormes lucros...

Alex Lantier
(Continua)
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Fonte:
World Socialist Web Site

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