segunda-feira, 20 de abril de 2009

2395. Cientistas estudam a formação de panquecas de gelo no Árctico

As mudanças climáticas não estão apenas a fazer desaparecer o gelo do oceano Árcticom, estando também estão a mudar o tipo de gelo que se forma. Os pesquisadores estão a tentar determinar como um aumento na "panqueca de gelo" está a afectar o extremo norte, e inclusive se o aquecimento local está a acelerar.
No passado, as águas do Árctico foram dominadas por grossos pedaços de gelo marinho, que duram de um ano para outro. Mas a cobertura de gelo do oceano está diminuindo e o gelo grosso que dura vários anos está a desapar rapidamente. No lugar das camadas de gelo grosso, os pesquisadores estão a encontrar uma proporção maior de gelo recém-formado e fino.
O novo gelo pode ser formado de diferentes formas. Quando a água está cercada de blocos de gelo, como era comum no Árctico, áreas de água aberta são pequenas e há poucas hipóteses para o vento formar ondas fortes. Nessas condições calmas, o gelo forma-se em placas inteiras chamadas "nilas".
Mas agora o Árctico tem áreas maiores de água aberta, e mais ondas. "Assim que se introduz ondulação, produz-se uma forma totalmente diferente de gelo", disse Jeremy Wilkinson, da Associação Escocesa de Ciência Marinha, em Oban, no Reino Unido. Sob estas condições, massas de cristal de gelo arremessadas de um lado para outro na água combinam-se para formar uma mistura densa chamada "gelo oleoso", e depois "panquecas" de gelo fino com um ou dois metros de diâmetro.
Isto pode ter todo tipo de efeito indirecto. Como as panquecas são redondas, por exemplo, têm áreas de água aberta entre elas quando se juntam, deixando a superfície mais escura no geral, o que poderia ter um efeito aquecedor como resultado de menos radiação solar reflectida.
A água também escorrega por esses buracos para ficar sobre o gelo, de modo que a neve que está a cair derrete em vez de assentar, fazendo a superfície ficar mais escura. "Esse ciclo não segue os modelos do Árctico nem do Antárctico. É um desses enigmas que as pessoas ainda não investigaram", disse Wilkinson.
Panquecas no laboratório - Wilkinson e seus colegas completaram neste mês uma série de experiências controladas para medir as diferenças entre as nilas e as panquecas de gelo no laboratório, incluindo as diferenças na espessura do gelo, temperatura da água, salinidade e albedo – fracção da luz solar incidente que é reflectida. A equipe usou um tanque de ondas com 30 metros de comprimento e 1,5 metros de profundidade na Bacia de Testes Ambientais do Árctico, em Hamburgo, na Alemanha, para testar a formação de gelo em condições calmas em comparação à água agitada e tempestades.
A equipe não conseguiu replicar as ondas de metros que podem ser vistas no oceano; então, para mimetizar condições tempestuosas, os cientistas aumentaram a frequência de ondas com dezenas de centímetros de altura. Os testes confirmaram que, como esperado, as panquecas de gelo dominavam quando havia ondas.
Os seus dados quantitativos ainda não publicados – que levarão alguns meses para serem analisados – serão incorporados a novos modelos climáticos que estão a ser desenvolvidos por Dirk Notz, membro da equipe, e outros pesquisadores do Instituto de Meteorologia Max Planck, em Hamburgo, para ver como a mudança no tipo de gelo pode afectar as temperaturas futuras no Árctico.
Há outros efeitos além da mudança no albedo. O gelo acumula-se no fundo de uma única placa de forma mais lenta do que em torno de cristais que flutuam para cima e para baixo na água; então, uma panqueca de gelo de 0 a 15 cm de grossura pode levar o mesmo tempo para se formar do que uma nila de 1 cm.
Como a formação de gelo extrai água fresca do oceano, a formação mais rápida de gelo pode significar oceanos mais salgados, o que por sua vez pode impactar na circulação oceânica, crescimento de gelo e temperatura atmosférica.
"Gelo jovem não é tão estudado porque não costumava haver muito", disse David Barber, da Universidade de Manitoba, em Winnipeg, no Canadá, que conduziu um projecto realizado durante o inverno para investigar as condições do gelo no oceano Árctico, que acabou no ano passado. Ele diz haver claramente mais água aberta durante a geada de inverno, causando tempestades ciclónicas que trazem vento e mais neve, e ainda mais panquecas de gelo.
"Tivemos que tirar o nosso navio do mar aberto, porque as tempestades eram fortes demais para nós", disse Barber. "Não podíamos pousar os nossos helicópteros porque havia neve demais." Ele nota que, apesar de a extensão de gelo no oceano ter sido maior em 2008 do que durante a baixa recorde de 2007, isso aconteceu por causa do gelo novo adicional; o gelo multi-anual na verdade tinha diminuído em comparação aos níveis de 2007.
Essas raras observações do bloco de gelo do inverno, com trabalhos de laboratórios e modelos, devem ajudar a determinar o provável futuro do Árctico. "Estamos a tentar entender qual será o resultado de todos esses processos", disse Barber.

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Fonte: Terra

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