A epidemia de gripe que assolou Portugal nas últimas quatro semanas de 2008 e primeiras seis deste ano causou mais 1200 a 1500 mortes do que seria normal neste período, de acordo com os resultados preliminares de um estudo feito pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa).
"As estimativas do excesso de mortalidade associado à actividade gripal não são tão catastróficas como podem parecer à partida. Apontam para um número que já era expectável e que, para, já até é baixo", desdramatiza Paulo Nogueira, que coordena o sistema de vigilância diária da mortalidade no Departamento de Epidemiologia do Insa.
"A gripe é uma doença que mata", lembra Mário Carreira, da Direcção-Geral da Saúde, sublinhando que há sempre um excesso de mortalidade associado a esta patologia sazonal. As vítimas são sobretudo os mais idosos e alguns doentes crónicos (com diabetes graves, insuficiências cardíacas, hepáticas e renais graves, fibroses pulmonares, etc.) que descompensam ou não resistem às complicações decorrentes da doença, como as pneumonias.
Os Invernos com epidemias de gripe mais intensas são, aliás, normalmente aqueles em que morrem mais idosos. No Inverno de 1998/99, em que se atingiu um pico na taxa de incidência de gripe (252,9 casos semanais por 100 mil habitantes) morreram quase 35.500 pessoas com mais de 65 anos, quando no Inverno anterior (com um número de novos casos a rondar os 42 por 100 mil habitantes) tinham morrido pouco mais de 28 mil.
O Plano de Contingência do Sector da Saúde para a Pandemia de Gripe, elaborado em 2006, refere que, em Portugal, as estimativas apontam para um número médio de 1773 óbitos, por época gripal, no período de 1990 a 1998" e lembra que, em anos mais recentes, a mortalidade anual por gripe e por causas que podem estar associadas a complicações de gripe atingiu 3822 pessoas, em 2003. Mário Carreira considera também que as estimativas do Insa até nem são muito elevadas, tendo em conta a intensidade da epidemia de gripe que este Inverno se fez sentir e que levou milhares de pessoas aos serviços de urgência hospitalares, que entraram em sobrecarga e motivaram a intervenção da ministra da Saúde.
Mas faz questão de acentuar que este excesso de mortalidade não deve ser atribuído apenas à gripe. É preciso levar também em conta o impacto do frio e outras doenças infecciosas respiratórias, diz, frisando que este ano o período de maior intensidade de frio coincidiu com a fase final da epidemia de gripe.
Seja como for, esta foi a primeira vez que o Insa conseguir avaliar com rapidez o efeito da actividade gripal na mortalidade. E conseguiu-o graças ao sistema de vigilância diária de mortalidade montado em 2004 para medir o impacto das ondas de calor, na sequência da tragédia do Verão de 2003. Este sistema funciona em parceria com o Instituto dos Registos e Notariado, que actualmente envia a informação em formato electrónico.
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Fonte: PÚBLICO
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