segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

3399. As alterações climáticas e as tempestades

O aquecimento global provocado por actividades humanas aumentou a intensidade das chuvas, tempestades de neve e, consequentemente, das cheias registadas ao longo da última metade do século XX. Dois estudos divulgados na revista científica britânica “Nature” estão entre os primeiros a estabelecer uma ligação directa entre as alterações climáticas e o seu efeito em acontecimento climáticos potencialmente destrutivos e mortais.
O Brasil, a Austrália, o Sri Lanka e o Paquistão têm sofrido cheias maciças, dando origem a perguntas sobre se o aquecimento global seria pelo menos parcialmente responsável pelo problema. Modelos de computador já previram há muito tempo que o aumento das concentrações de gases causadores do efeito de estufa aumentaria os episódios de temporais. Mas até agora, a ligação estabelecida foi muito teórica.
“O artigo fornece a primeira prova específica de que este é realmente o caso”, diz Francis Zwiers, pesquisador da Universidade de Victoria, no Canadá, e co-autor de um dos estudos. “O homem influencia a intensidade das chuvas extremas”, disse o cientista a jornalistas numa conferência de imprensa por telefone.
Dados reunidos entre 1951 e 2000 na Europa, Ásia e América do Norte demonstram que, em média, a precipitação mais extrema em 24 horas de um determinado ano – seja chuva, neve ou granizo – aumentou de intensidade nos últimos 50 anos do século XX. Quando este pico mensurável foi comparado com mudanças simuladas por modelos climáticos, a marca da influência humana nos padrões climáticos da Terra tornou-se inquestionável.
“A alteração observada não pode ser explicada por flutuações naturais e internas do sistema climático apenas”, acrescentou Zwiers. Segundo ele, o estopim principal foi, simplesmente, uma concentração maior de água no ar. “Num mundo mais quente, a atmosfera tem maior capacidade de reter humidade”, explicou Zwiers.
Isto não significa necessariamente que num lugar onde não chove muito as precipitações aumentam, acrescentou. De facto, alguns lugares da Terra provavelmente ficarão mais secos. Mas isto significa que quando um furacão ou uma tempestade de neve acontece, há mais água disponível.
Porque razão demorou tanto tempo para que os cientistas começassem a estabelecer ligações sólidas entre o aquecimento global e os acontecimentos climáticos extremos? Uma razão é que só nas últimas décadas a concentração de gases capazes de reter o calor se tornou mais óbvia. “Consideramos cada vez mais fácil detectar este indício nas observações”, declarou o pesquisador Francis Zwiers.
No segundo estudo, que procurou descobrir o papel do aquecimento global do Outono mais húmido já registado na Inglaterra, no ano 2000, um grupo de cientistas, chefiado por Myles Allen, da Universidade de Oxford, contou com o poder das redes sociais na internet. Os pesquisadores compararam dois modelos climáticos, um baseado em dados climáticos históricos detalhados e outro num Outono de 2000 “paralelo”, simulando condições sem os gases de efeito de estufa emitidos no século XX.
Eles descobriram que o aquecimento global teria duplicado a possibilidade de tal acontecimento ocorrer. “Para realmente detectar a diferença entre estes dois mundos, tivemos que repetir esta simulação milhares de vezes”, explicou o chefe das pesquisas, Pardeep Pall, que iniciou o projecto quando ainda era estudante de licenciatura, em 2003.
“Pedimos que às pessoas em tudo o mundo reproduzissem as simulações nos seus próprios computadores, usando o seu tempo livre”, acrescentou Pall. Com base nos resultados deste estudo, o departamento britânico responsável pelo clima está a desenvolver ferramentas para medir a influência humana em acontecimentos climáticos futuros. “Este tipo de estudo vai permitir-nos quantificar como as alterações climáticas estão a afectar as pessoas de forma que deixe de ser uma projecção hipotética no futuro”, disse Allen.
A ferramenta também seria útil para legitimar os pedidos de países em desenvolvimento que queiram candidatar-se a receber as centenas de milhares de milhões de dólares destinados a medidas de adaptação para as alterações climáticas. Pessoas interessadas em emprestar a potência dos seus computadores para promover o projecto podem obter informações no site climateprediction.net, que actualmente é realizado com a ajuda de 50 a 60 mil computadores pessoais.
Marlowe Hood
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