quarta-feira, 13 de junho de 2012

3912. Milhares de aves que deram à costa do Peru morreram de fome

As 5000 aves marinhas, a maioriapelicanos e gansos-patola, encontradas nas praias do Peru nas últimas semanasterão morrido de fome, conclui um estudo sobre as causas de um fenómeno já tidocomo uma catástrofe ecológica. Os animais, mortos ou moribundos, têm sidoencontrados nas praias da região Norte do país, principalmente em Ancash, La Libertad, Lambayeque ePiura.
Um novo estudo científico, citadopelo jornal The Guardian, concluiu que o aumento da temperatura das águascosteiras do Peru, normalmente atribuído ao fenómeno El Niño – alterações decurta duração (12 a18 meses) na distribuição da temperatura da água à superfície do OceanoPacífico –, levou à diminuição das quantidades de arenques, peixes que são oprincipal alimento dos pelicanos e a base de uma cadeia alimentar que torna aságuas do Peru ricas em biodiversidade. “As mudanças oceanográficas têm afectadoa disponibilidade de alimento e existe a possibilidade de que isto tenhaafectado a distribuição dos arenques”, disse a bióloga marinha Patricia Majluf.
Desde 1998, quando o El Niño sefez sentir no Peru e causou a morte a milhões de aves e outros animaismarinhos, Majluf tem estado à frente dos esforços de conservação marinha nopaís, promovendo a criação da primeira área marinha protegida da região. EmFevereiro deste ano foi nomeada vice-ministra das Pescas mas pediu a demissão,dizendo que aquele sector estava “em desordem, cheio de irregularidades ecorrupção”. “Quando há um aumento das temperaturas à superfície do mar, o peixevai para águas mais profundas, fora do alcance dos pelicanos juvenis, que aindanão conseguem mergulhar e, por isso, não se conseguem alimentar”, acrescentouMajluf. A maioria das aves encontradas mortas são juvenis, muitos delesmalnutridos. Majluf acredita que existe uma “elevada possibilidade” de um fenómenoEl Niño acontecer no final deste ano.
Um biólogo da UniversidadeNacional de Trujillo, Carlos Bocanegra, diz que a sua análise a dez pelicanosmortos apoia a teoria de Majluf. O aparelho digestivo dos animais estava vazioou tinha restos de peixes que os pelicanos normalmente não comem, disse oinvestigador à televisão canadiana CBC. As temperaturas do oceano na região,disse Bocanegra, estão 6º C acima do normal para esta época do ano.
O aparecimento de milhares depelicanos mortos já aconteceu antes, nomeadamente em 1982-1983 e em 1997-1998,coincidindo com o El Niño. As aves marinhas não foram as únicas a morrer. Ovice-ministro do Ambiente, Gabriel Quijandria, disse em conferência de imprensaque, além das 5000 aves também morreram 1000 golfinhos, entre Fevereiro eAbril. “É provável que este fenómeno se estenda a outras zonas costeiras e queo número de animais mortos aumente”, acrescentou, referindo também como causapossível o aquecimento das águas do oceano Pacífico e o seu impacto nosrecursos alimentares das espécies.
Gabriel Quijandria disse aindaque foi criado um grupo de trabalho para encontrar as causas para o que algunsperuanos já consideram como uma catástrofe ecológica. Mas há quem critique aactuação das autoridades. Armando Hung, o cientista do laboratório de biologiamolecular na Universidade Cayetano Heredia e responsável pela investigaçãosobre a morte dos golfinhos, disse que as autoridades foram demasiado lentas arecolher amostras dos animais e que provas cruciais já se terão perdido. Alémdisso, as autoridades locais terão demorado muito tempo a remover as carcaçasdos animais das praias, levando o Ministério da Saúde peruano a aconselhar aspessoas a ficarem longe dos areais.
HelenaGeraldes
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