Se há lugar onde a preparação
para um mundo mais quente deve começar já, é nas cidades, alerta um relatório
divulgado pela Agência Europeia do Ambiente. Ondas de calor, cheias e problemas
no abastecimento de água serão mais intensos nas zonas urbanas.
Nas cidades não só vivem três
quartos da população da Europa, como os efeitos das alterações climáticas
poderão ser exacerbados pelo excesso de construção e solo impermeabilizado. Segundo
o relatório, um quinto das cidades europeias com mais de 100.000 habitantes são
“muito vulneráveis” às cheias. A previsível subida da temperatura média global
vai agravar este risco. Na Europa ocidental e central, cheias causadas por rios
prometem ser mais problemáticas. Nos países do norte, os sistemas de drenagem
da água da chuva poderão revelar-se insuficientes perante a possível subida no
nível de precipitação e a ocorrência de mais tempestades.
As ondas de calor também são alvo
de inquietação da Agência Europeia do Ambiente. “O Verão excepcional de 2003
poderá ser visto como normal em meados do século XXI”, sustenta o relatório,
citando dois estudos científicos de 2004 e 2010. Temperaturas elevadas serão um
problema particularmente agudo para uma população cada vez mais envelhecida,
como é a europeia. Em 2071-2100, são esperadas 86.000 mortes adicionais
relacionadas com o calor na União Europeia, em relação a 1961-1990, segundo um
vasto estudo sobre os efeitos das alterações climáticas na Europa – o projecto
PESETA. Outro estudo, publicado em 2003, sugere que a mortalidade associada ao
calor possa subir até seis vezes em Lisboa.
Nas zonas urbanas, acresce o
efeito das “ilhas de calor” – em que a temperatura aumenta ainda mais, devido à
energia térmica irradiada pelos edifícios. E mais da metade das cidades
europeias têm uma baixa percentagem de áreas ajardinadas, segundo a agência
europeia. A Agência Europeia do Ambiente sugere um “mix” de soluções de
adaptação. Há as medidas “cinzentas”, por exemplo, infra-estruturas edificadas,
como barragens ou diques para conter cheias; há medidas “verdes”, como aumentar
as áreas verdes ou plantar jardins na cobertura dos edifícios; e há ainda as
medidas “suaves”, como mecanismos de informação a grupos de risco.
Muitas cidades já estão a pensar
no assunto, e o município de Cascais – que em 2010 lançou um plano estratégico
de adaptação às alterações climáticas – é citado como um exemplo. Cenários para
o final deste século sugerem que, por cada grau adicional acima dos 30ºC, o
risco de mortalidade aumentará 4,7% no concelho. Uma “estrutura local verde”,
com parques, vales e jardins ligados entre si, é uma aposta para minimizar o
problema. Em Portugal, Sintra também tem o seu diagnóstico sobre como será a
vida do concelho num futuro mais quente. Há muitas outras cidades europeias que
não estão de braços cruzados. Em Ostende, na Bélgica, uma nova praia foi
construída para travar cheias; em Malmo, na Suécia, coberturas “verdes” e
canais abertos foram pensados para ajudar a reter água durante chuvas intensas;
em Copenhaga, capital da Dinamarca, uma nova linha de metro prevê acessos
ligeiramente acima do nível do solo, para evitar inundações; e em Saragoça, em
Espanha, uma campanha conseguiu reduzir em 30% o consumo local de água nos
últimos 15 anos.
“As cidades precisam começar a
investir em medidas de adaptação”, alerta a directora-executiva da Agência
Europeia do Ambiente, Jacqueline McGlade, citada num comunicado. “Quanto mais
esperarem os líderes políticos, mais cara será a adaptação e o perigo para os
cidadãos e para a economia aumentará”, reitera.
Ricardo Garcia
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Fonte: PÚBLICO (Ecosfera)
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