Um relatório da Universidade de
Coimbra sobre o combate aos incêndios de 2013 e a morte de oito operacionais
aponta falhas graves na actuação dos bombeiros: desde lacunas na formação,
desobediências "que não são toleráveis" no terreno, falta de
comunicação nas equipas, ao não uso de equipamentos de protecção no combate aos
fogos e utilização de equipamento de má qualidade. As conclusões são avançadas
pelo JN, que cita a segunda parte do relatório "Os Grandes Incêndios
Florestais e os Acidentes Mortais Ocorridos em 2013".
A primeira parte foi divulgada no
final daquele ano, em que oito pessoas morreram no combate às chamas, mas a
segunda parte não chegou a ser revelada, tendo o então ministro da
Administração Interna dito que não se comprometia a fazê-lo: "As
consequências dessa segunda parte podem ter uma natureza completamente
diferente daquele que foi publicado, essa ponderação tem de ser muito bem
feita", admitiu Miguel Macedo.
Segundo o JN, o relatório de 80
páginas passa a pente fino os acontecimentos de cada um dos fogos com vítimas
mortais. Num dos incêndios, em Tondela, além de ter havido "uma clara
subestimação das condições de propagação que o fogo poderia adquirir", a
corporação dos dois bombeiros que perderam a vida não obedeceu a uma ordem de
retirada dada pelo comandante, ou melhor, gritada três vezes, via rádio. Este
fogo aconteceu sete dias depois de outro, na mesma zona, em que dois bombeiros
perderam a vida. O relatório nota que os operacionais não tinham almoçado nem
se alimentavam há várias horas e fugiram para uma zona já queimada, o que deve
ser evitado pois há o perigo de reacendimento, como de facto aconteceu. O
equipamento também falhou: as solas das botas dos bombeiros derreteram, o que
os obrigou a fugir de gatas.
A equipa liderada por Xavier
Viegas, do Departamento de Engenharia Mecânica da universidade, aponta por isso
para a utilização de equipamentos de fraca qualidade, dizendo que não se deve
poupar no preço, um problema que o especialista diz já ter sido resolvido. O
relatório aponta ainda para problemas nos sistemas de comunicação, que Xavier
Viegas diz estarem por resolver. Por outro lado, diz que as falhas na formação
fizeram com que faltasse coesão às equipas e algum desconhecimento sobre
"o comportamento do fogo" e do seu "carácter dinâmico em encosta
e desfiladeiros".
A época mais crítica em incêndios
florestais de 2013 terminou com mais de 120 mil hectares de área ardida, nove
mortos e 73 detidos pela Polícia Judiciária.
Patrícia Jesus
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Fonte: Diário de Notícias
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