quarta-feira, 28 de junho de 2017

6301. PEDRÓGÃO GRANDE: IPMA ainda não tem dados que confirmem se foi trovoada seca a causar a tragédia

Foi a primeira tese oficial avançada logo após a tragédia em Pedrógão Grande: um raio fruto de trovoada seca estaria na origem do incêndio que matou pelo menos 64 pessoas. As últimas horas têm sido marcadas pelas dúvidas sobre se afinal foi ou não assim. Dados conclusivos só esta quarta-feira, sabe o Expresso. Presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) refuta teorias de conspiração. A suspeita de terá sido um raio caído sobre uma árvore junto da aldeia de Escalos Fundeiros a causa do imenso incêndio que deflagrou no concelho de Pedrógão Grande, tirando a vida a 64 pessoas, não está esclarecida. Nem sequer pela autoridade responsável.
No domingo, o director nacional da Polícia Judiciária (PJ), Almeida Rodrigues, afirmou que as autoridades policiais tinham conseguido “determinar a origem do incêndio” e que tudo apontava “muito claramente para causas naturais”, tendo então sido encontrada “a árvore que foi atingida por um raio”. Contudo, os dados em bruto disponibilizados no sítio da Internet do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) no passado sábado não indicavam registo de qualquer descarga eléctrica entre Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos, estando todas as ocorrências de trovoadas secas sinalizadas a leste, sudeste e nordeste do local onde tudo terá supostamente começado.
A polémica estalou, levando o primeiro-ministro, António Costa, a colocar entre as três questões “que necessitam de esclarecimento urgente”, uma específica para apurar se “houve no local circunstâncias meteorológicas e dinâmicas geofísicas invulgares que possam explicar a dimensão e intensidade da tragédia”. A resposta só deverá chegar esta quarta-feira. “A análise definitiva dos dados não está fechada e só amanhã (quarta-feira) teremos o relatório final”, afirma ao Expresso o presidente do IPMA, Miguel Miranda. O responsável reitera que “há indícios de que houve trovoada seca, tendo em conta a informação registada no terreno pelos especialistas forenses”. Miguel Miranda garante que os técnicos do IPMA vão analisar e apresentar o relatório final com base nos dados do sistema e indo ao terreno e que, “se não houver evidências de que houve ali trovoada seca, é isso que constará no relatório”.
O responsável lamenta e refuta o que classifica como “teorias da conspiração” que falam de dados que desapareceram da página online do IPMA no domingo e argumenta que “os dados em bruto não tratados costumam sair do site em menos de 48 horas para serem trabalhados no back office”. O sistema gerido pelo IPMA tem por base uma rede que identifica em tempo real informação sobre as descargas eléctricas na atmosfera em várias localizações, podendo estes raios chegar ou não a terra. No entanto, é necessário interpretar os dados e possíveis falhas no serviço.
A tese de que tudo começou com uma trovoada seca no eucaliptal junto a Escalos Fundeiros não convence os moradores da aldeia. “Andam para aí a inventar que caiu um raio numa destas árvores, mas os únicos trovões que ouvi nessa tarde estavam longe, para os lados da Sertã”, afirmou ao Expresso Miguel Serrano, de 75 anos, na segunda-feira. A ideia é corroborada por Alcinda Barata, uma reformada de 71 anos, que não tem dúvidas de que o fogo começou ali, mas muitas horas antes de escutar os primeiros estrondos vindos do céu.
“Há alguma indefinição sobre se a origem do incêndio foi mesmo um raio”, admite fonte do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. No entanto, os técnicos da floresta dizem não ter dúvidas de que “o que ali aconteceu e a dimensão do fenómeno está associada à ocorrência de trovoadas secas na região”. Já a PJ mantém-se reservada. Fonte da força que investiga as causas do incêndio apenas afirma: “Não temos indicação de que o incêndio tenha tido mão humana. Teve causas naturais”.
O incêndio que teve origem no sábado em Pedrógão Grande alastrou para os concelhos de Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere, Penela e Góis, tendo já devastado mais de 50 mil hectares, segundo dados do European Forest Fire Information System (EFFIS).
Carla Tomás, Hugo Franco
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Fonte: Expresso

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