Foi a primeira tese oficial
avançada logo após a tragédia em Pedrógão Grande: um raio fruto de trovoada
seca estaria na origem do incêndio que matou pelo menos 64 pessoas. As últimas
horas têm sido marcadas pelas dúvidas sobre se afinal foi ou não assim. Dados
conclusivos só esta quarta-feira, sabe o Expresso. Presidente do Instituto
Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) refuta teorias de conspiração. A
suspeita de terá sido um raio caído sobre uma árvore junto da aldeia de Escalos
Fundeiros a causa do imenso incêndio que deflagrou no concelho de Pedrógão
Grande, tirando a vida a 64 pessoas, não está esclarecida. Nem sequer pela
autoridade responsável.
No domingo, o director nacional
da Polícia Judiciária (PJ), Almeida Rodrigues, afirmou que as autoridades
policiais tinham conseguido “determinar a origem do incêndio” e que tudo
apontava “muito claramente para causas naturais”, tendo então sido encontrada
“a árvore que foi atingida por um raio”. Contudo, os dados em bruto
disponibilizados no sítio da Internet do Instituto Português do Mar e da
Atmosfera (IPMA) no passado sábado não indicavam registo de qualquer descarga eléctrica
entre Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos, estando todas as ocorrências de
trovoadas secas sinalizadas a leste, sudeste e nordeste do local onde tudo terá
supostamente começado.
A polémica estalou, levando o
primeiro-ministro, António Costa, a colocar entre as três questões “que
necessitam de esclarecimento urgente”, uma específica para apurar se “houve no
local circunstâncias meteorológicas e dinâmicas geofísicas invulgares que
possam explicar a dimensão e intensidade da tragédia”. A resposta só deverá
chegar esta quarta-feira. “A análise definitiva dos dados não está fechada e só
amanhã (quarta-feira) teremos o relatório final”, afirma ao Expresso o
presidente do IPMA, Miguel Miranda. O responsável reitera que “há indícios de
que houve trovoada seca, tendo em conta a informação registada no terreno pelos
especialistas forenses”. Miguel Miranda garante que os técnicos do IPMA vão
analisar e apresentar o relatório final com base nos dados do sistema e indo ao
terreno e que, “se não houver evidências de que houve ali trovoada seca, é isso
que constará no relatório”.
O responsável lamenta e refuta o
que classifica como “teorias da conspiração” que falam de dados que
desapareceram da página online do IPMA no domingo e argumenta que “os dados em
bruto não tratados costumam sair do site em menos de 48 horas para serem
trabalhados no back office”. O sistema gerido pelo IPMA tem por base uma rede
que identifica em tempo real informação sobre as descargas eléctricas na
atmosfera em várias localizações, podendo estes raios chegar ou não a terra. No
entanto, é necessário interpretar os dados e possíveis falhas no serviço.
A tese de que tudo começou com
uma trovoada seca no eucaliptal junto a Escalos Fundeiros não convence os
moradores da aldeia. “Andam para aí a inventar que caiu um raio numa destas
árvores, mas os únicos trovões que ouvi nessa tarde estavam longe, para os
lados da Sertã”, afirmou ao Expresso Miguel Serrano, de 75 anos, na
segunda-feira. A ideia é corroborada por Alcinda Barata, uma reformada de 71
anos, que não tem dúvidas de que o fogo começou ali, mas muitas horas antes de
escutar os primeiros estrondos vindos do céu.
“Há alguma indefinição sobre se a
origem do incêndio foi mesmo um raio”, admite fonte do Instituto da Conservação
da Natureza e das Florestas. No entanto, os técnicos da floresta dizem não ter
dúvidas de que “o que ali aconteceu e a dimensão do fenómeno está associada à
ocorrência de trovoadas secas na região”. Já a PJ mantém-se reservada. Fonte da
força que investiga as causas do incêndio apenas afirma: “Não temos indicação
de que o incêndio tenha tido mão humana. Teve causas naturais”.
O incêndio que teve origem no
sábado em Pedrógão Grande alastrou para os concelhos de Figueiró dos Vinhos,
Alvaiázere, Penela e Góis, tendo já devastado mais de 50 mil hectares, segundo
dados do European Forest Fire Information System (EFFIS).
Carla Tomás, Hugo Franco
* * * * * * * * * * * * * * *
Fonte: Expresso
Sem comentários:
Enviar um comentário