Se há pasta
governamental que exige total confiança e responsabilidade é a
Administração Interna, onde se lida com a segurança das pessoas e bens,
onde os portugueses devem depositar toda a sua confiança e que deve ser um
pilar de sobriedade, transparência e confiança entre todas as instituições.
Não pode servir para propaganda, para criar fake news e simular uma sensação de
segurança em torno de anúncios e meias verdades ocultando a realidade
das pessoas.
Vem isto a
propósito dos constantes anúncios que Eduardo Cabrita, ministro da
Administração Interna, tem vindo a fazer, ora mentindo, ora manipulando
informações ou escondendo a verdade dos portugueses sobre a preparação da época
de incêndios. Tudo isto ensombra algumas boas medidas que mesmo assim têm sido
tomadas.
Depois de todas
as tragédias do verão passado o Governo insiste na propaganda para
disfarçar a sua incompetência. Começámos pelas “cabras sapadoras”, no
domingo ficámos a saber que “finalmente haveria bombeiros na coordenação do
combate aos fogos”, como se nos últimos anos tivessem sido enfermeiros, electricistas
ou advogados a fazê-lo. Ontem ficámos a conhecer os “oficiais de aldeia”.
Depois de na
semana passada ter sido questionado no Parlamento sobre os atrasos no
planeamento operacional dos meios aéreos e terrestres, o ministro voltou a
tentar enganar os portugueses e a confessar que não disse a verdade no
Parlamento.
Questionado
sobre a definição dos meios terrestres no debate na Assembleia da República, Eduardo
Cabrita respondeu que estava tudo resolvido, que pela primeira vez na
nossa história havia já uma Directiva Única em vigor e uma Directiva Financeira
tinha sido publicada nesses dias. Ora nada disto tem a ver com meios, apenas
com a definição de responsabilidades entre as várias instituições, algo que existe
há anos e nunca muda. A novidade foi o Governo ter compilado num único
documento, a directiva única, algo que era feito por instituição.
No último
domingo, em Pedrógão Grande, confrontado pelos jornalistas com o tema dos
meios, o ministro da Administração Interna disse que afinal a Directiva de
Meios, conhecida na gíria por “DON”, seria aprovada nos próximos dias e que
isso também significava que seria o “mais cedo de sempre, da nossa história”.
Ou seja, confessa que, ao contrário do que disse no Parlamento, não
estavam ainda definidos os meios terrestres a pedir aos bombeiros de cada
concelho e mentiu ao dizer que no passado isto tinha sido definido mais tarde.
Conforme consulta no site da ANPC, tutelada pelo MAI, em 2013 esta DON foi
aprovada a 14 de Março, em 2014 a 26 de Março, em 2015 a 30 de Março, em 2016 a
17 de Março e em 2017 a 31 de Março. Já estamos a 10 de Abril e até
agora nada. Mais uma vez Eduardo Cabrita mentiu aos portugueses.
Quantos aos
meios aéreos a confusão é total. Tudo começou com os ziguezagues e
incertezas sobre a participação da Força Aérea. Depois tivemos os consecutivos
falhanços dos concursos para a contracção dos meios que resultam do
irrealismo, dos erros e dos disparates dos respectivos cadernos de encargos.
Sem esquecer a danosa gestão do processo Kamov (adquiridos por António Costa
enquanto MAI) cuja incompetência o governo decidiu ocultar sob o manto
do “interesse nacional”. A cada dia que passa o Governo está em pior
posição para resolver estes dossiês. Primeiro porque quanto mais tarde
decidir menos meios haverá no mercado, já que outros países trataram
atempadamente destes processos. Havendo menos oferta, Portugal corre o
risco de ficar com o “refugo” que ninguém quer e os preços subirão em flecha.
Para esconder tamanha incompetência o Governo opta pelo discurso “dos cartéis”,
mas quem nos coloca à mercê desses supostos carteis é precisamente a
incompetência do Governo de António Costa.
Outras das fake
news é sobre as “EIP´s”, as tais equipas de bombeiros profissionais que o
Governo vai colocar ao serviço das corporações. Primeiro, o Governo anunciou
mais 120 equipas, depois disse que seriam mais 80, na semana passada já eram
79. Mas a verdade é que em 2017 já existiam 165. Pergunto quantas serão de
facto no verão? O MAI aposta nesta propaganda, mas esquece-se de dizer que
estas equipas trabalham das 8 às 17 horas e apenas nos dias úteis. Estranha
aposta quando a maioria dos fogos tem início após as 17 horas e ao fim de
semana.
A mais recente
“reforma” do ministro Eduardo Cabrita foi também anunciada no domingo quando
disse que “pela primeira vez” passariam a existir bombeiros nos Postos de
Comando dos incêndios. Mais uma mentira e um disparate. Primeiro é
mentira que não existissem bombeiros nos postos de comando já que a esmagadora
maioria dos responsáveis nos postos de comando são precisamente bombeiros.
Depois veio o disparate. Eduardo Cabrita diz que a Liga de Bombeiros passará a
ter um representante do posto de comando. Mas para quê? É um cargo político
para comprometer a Liga? Ou quis dizer que a Liga de Bombeiros vai passar a
nomear os comandantes responsáveis pelo comando das operações? É tudo tão
confuso e propagandístico que o caos é cada vez maior.
É revoltante ver
que, tal como após a tragédia de Pedrógão, o Governo está mais
preocupado com a politiquice, com a propaganda e em transferir
responsabilidades do que em fazer reformas sérias e a preparar melhor a época
de incêndios de 2018.
Duarte Marques
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Fonte: Expresso
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