quinta-feira, 22 de agosto de 2019

7361. Queimadas na Amazônia em 2019 seguem o rastro do desmatamento

O número de focos de calor registados na Amazónia já é 60% mais alto do que o registado nos três anos anteriores. O pico tem relação com o desmatamento, e não com uma seca mais forte como poderia se supor, segundo nota técnica sobre a actual temporada de queimadas que o IPAM (Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazónia) divulga hoje.
De 1 de Janeiro a 14 de Agosto, 32 728 focos foram registados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) no bioma. Uma das hipóteses para explicar a alta em 2019 seria uma estiagem intensa, como a registada em 2016. Mas ela não se confirmou: apesar da seca, há mais humidade na Amazónia hoje do que havia nos últimos três anos.
Se a seca não explica as queimadas actuais, a retomada da desflorestação da floresta faz isso. O fogo é normalmente usado para limpar o solo depois do desmatamento, e a relação entre os dois factores é positiva numa análise entre os focos de calor e o registo de derrubada feito pelo Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD).
“Não há fogo natural na Amazónia. O que há são pessoas que praticam queimadas, que podem piorar e virar incêndios na temporada de seca”, explica a directora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, uma das autoras da nota. “Mesmo numa estiagem menos intensa do que em 2016, quando sofremos com um El Niño muito forte, o risco do fogo escapar é alto.”
A fumaça desencadeia uma série de problemas respiratórios em quem mora na região, o que gera ainda gastos com saúde pública e prejuízos económicos pela ausência de funcionários. No Acre, que a nota destaca como exemplo, os satélites já registraram 1 790 focos de calor, número 57% mais alto do que em 2018 e 23% mais alto do que em 2016, com cidades respirando uma quantidade de partículas muito acima do que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
“As consequências para a população são imensas. A poluição do ar causa doenças e o impacto económico pode ser alto”, diz o pesquisador sénior do IPAM Paulo Moutinho. “Combater o desmatamento, que é um vector das queimadas, e desestimular o uso do fogo para limpar o terreno são fundamentais para garantir a saúde das pessoas e das florestas.”
Texto adaptado ao português europeu
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