O número de queimadas no Brasil é
o recorde para os oito primeiros meses do ano desde 2013. Até dia 19 de Agosto,
o país registrava 72.842 focos de calor, um aumento de 83% em relação ao ano
passado. Considerando apenas o bioma Amazónia, eram 38.227 mil focos de calor
até o dia 19 – um aumento de 140% em relação ao ano passado e de 70% em relação
à média dos três anos anteriores. Dois Estados criticamente atingidos, Rondônia
e Acre, registram emergência de saúde devido à poluição do ar. A pluma de
fumaça atingiu a cidade de São Paulo e várias outras no Centro-Sul do país.
Nota técnica publicada no último
dia 20 pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia) mostra que a
estiagem de 2019 não explica o problema: neste ano, o bioma Amazónia viu menos
dias consecutivos sem chuva do que a média entre 2016 e 2018: menos de 20
contra mais de 30, respectivamente. A análise de dados do Ipam para o bioma Amazónia
mostra que o factor que melhor explica o aumento nos focos de calor é o
desmatamento. Os dez municípios mais desmatados em 2019 são também os dez que
mais queimaram na região.
As queimadas são apenas o sintoma
mais visível da antipolítica ambiental do governo de Jair Bolsonaro e de seu
ministro do Meio Ambiente, o improbo Ricardo Salles, que turbinou o aumento da
taxa de desmatamento no último ano. O fogo reflecte a irresponsabilidade do
presidente com o bioma que é património de todos os brasileiros, com a saúde da
população amazónica e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a
destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso.
Desde que assumiram, Bolsonaro e
Salles têm se dedicado a desmontar as estruturas de governança ambiental e os
órgãos de fiscalização. Extinguiram o órgão responsável pelos planos de controlo
do desmatamento na Amazónia e no cerrado, sem ter até hoje apresentado nenhum
plano alternativo contra a destruição; cortaram um quarto dos recursos do
Ibama; deixaram 8 de 9 superintendências regionais do órgão na Amazónia
acéfalas até hoje, o que inibe operações de fiscalização; e desmobilizaram o
Grupo Especial de Fiscalização, a unidade de elite do Ibama, que não foi a
campo na Amazónia ainda neste ano. Também sinalizaram a falta de interesse em
combater o desmatamento e prover alternativas económicas sustentáveis para a
região ao suspender o Fundo Amazónia, que banca esse tipo de actividade. Ao
mesmo tempo, empoderam criminosos ambientais, sinalizando, por exemplo, a
abertura das terras indígenas à exploração e a tolerância com a impunidade.
Alguns governos estaduais também ajudaram a acender o pavio, ao reduzir a
participação de suas PMs nas operações de fiscalização ou sinalizar que
desmatadores não seriam punidos.
A combinação de autoritarismo e
fanatismo ideológico do presidente e de seu ministro transformam em fumaça não
apenas as árvores da Amazónia e a reputação do Brasil, mas também o bem-estar
de uma população que o governo federal deveria proteger e o nosso acesso a
mercados internacionais e a investimentos. É bom já ir fazendo algo a respeito.
Texto adaptado ao português
europeu
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Fonte: Observatório do Clima
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