quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

1433. ONU teme que Conferência de Bali caia como um 'castelo de cartas'

O secretário-executivo da Conferência da ONU sobre a Mudança Climática, Yvo de Boer, disse esta quinta-feira estar "muito preocupado" com a possibilidade de o encontro cair como um "castelo de cartas de baralho" devido à postura de muitos países. No meio da discussão entre Estados Unidos, União Europeia (UE) e países emergentes, um pequeno grupo ministerial comandado pela Indonésia está reunido há dois dias para elaborar um projecto sem saber se haverá o apoio necessário para sua ratificação.
Boer disse que o seu papel termina antes do meio-dia de amanhã, na reunião de encerramento, para que as delegações possam ler e analisar com tempo suficiente os documentos antes de aprová-los. "Estamos em uma situação de tudo ou nada (...) Se não conseguirmos fazer aqui o trabalho necessário para o futuro, então tudo desmoronará como um castelo de cartas de baralho", disse o holandês Boer. Horas depois, pareceu mais optimista na entrevista colectiva para anunciar que o acordo de transferência de tecnologia para as nações emergentes estava praticamente fechado.
A intenção desse pacto é criar um mecanismo que supervisione e delimite as capacidades das nações em desenvolvimento de dispor de tecnologia contra o aquecimento do planeta. Ainda serão objectos do acordo o estudo de necessidades e a formulação de propostas concretas que cumpram os requisitos das instituições financeiras internacionais de ajuda a fim de integrar no processo tanto o sector público como o privado.
Na segunda entrevista, Boer disse que a aceitação, pelos EUA, de cortes de entre 25% e 40% nos seus níveis de dióxido de carbono segue incluída no esboço do texto debatido, mas não nas obrigações vinculativas, como exigem muitos países. A delegação dos EUA, liderada pela subsecretária de Estado para a Democracia e os Assuntos Globais, Paula Dobriansky, quer um tratado "flexível" e aceitou "um acordo global de redução de emissões e planos nacionais que tenham objectivos a médio prazo", mas não acções concretas, pois, em sua opinião, ainda há tempo: "Não temos que resolver todos os assuntos agora em Bali", disse Dobriansky.
China e Índia, como líderes das nações em desenvolvimento, culpam o Ocidente pelo aquecimento global, sem falar de suas próprias responsabilidades. A maior parte dos países em desenvolvimento considera que as nações ricas devem financiar a luta contra a mudança climática e ajudá-los a superar as consequências negativas de seus efeitos, pois dizem ser mais fracos.
A Bélgica, através do ministro do Meio Ambiente alemão, Sigmar Gabriel, ameaçou hoje boicotar as próximas reuniões sobre a mudança climática, começando pela organizada pelos EUA em Honolulu (Havai) em Janeiro, se Washington não aceitar reduzir suas emissões de gases poluentes. A UE sugeriu reduzir seus níveis de emissões de gases poluentes em 30% até 2020 se os demais países se comprometerem a um esforço igual.
Fora da tribuna oficial de oradores, o ex-vice-presidente americano e actual prémio Nobel da Paz Al Gore acusou hoje os EUA de se transformarem no principal obstáculo ao avanço nas conversas em Bali e previu que Washington mudará de postura após as eleições de 2008. Gore defendeu a adopção de limites específicos e obrigatórios às emissões de gases poluentes e antecipar em dois anos o novo acordo sobre mudança climática, cujas negociações serão iniciadas em 2008. "Devemos sair daqui com uma ordem clara. Não podemos recuar agora, já é tarde demais", afirmou Gore.
A proposta de Bali deve estabelecer as regras das negociações a serem realizadas em 2008 e 2009 para chegar a um novo acordo para combater a mudança climática que entrará em vigor após o fim do Protocolo de Kioto, em 2012.
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Fonte: G1

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