sexta-feira, 30 de julho de 2010

3069. PORTUGAL: O drama dos incêndios

Os tugas e os incêndios – Quando se viaja pelo país, há uma coisa que magoa os olhos, a cabeça e o coração: o desprezo que os portugueses têm por Portugal. Os incêndios reflectem esse desprezo.
I. Ao viajar por Portugal, uma pessoa vê sempre uma coisa: os portugueses desprezam Portugal, os portugueses maltratam os sítios onde vivem. É um comportamento quase masoquista. As bermas das entradas estão sempre cheias de entulho, e as matas e florestas apresentam sempre uma colecção faraónica de lixo. Plásticos e papéis decoram tudo o que é mato ao longo do país. Agora, uma pergunta: este lixo que se acumula nas matas não ajudará no início ou na propagação de vários incêndios? As pessoas que sujam as matas em redor da vila x não são as mesmas que depois aparecem na TV a gritar "onde estão os bombeiros"?
II. Tendo em conta que ninguém limpa as matas por razões socioeconómicas óbvias (êxodo rural iniciado nos anos 50, e que ainda não acabou), o início dos incêndios é inevitável com estas temperaturas (com ou sem lixo). Mas a "perigosidade" dos incêndios para as casas das pessoas podia ser evitado se as ditas pessoas limpassem o mato à volta das suas próprias casas. Mas, mesmo aqui, os portugueses não querem saber. Quando andamos pelo país, podemos ver sempre o mesmo cenário: existem vilas inteiras rodeadas por amazónias sequíssimas e prontinhas para arder. O que leva as pessoas a não proteger a sua própria casa? Como dizia ontem um senhor na TV, "é assim tão difícil fazerem como eu, que sempre que tenho um tempo livre limpo aqui as matas?". Eu acrescentaria: caramba, é assim tão difícil limpar o terreno explosivo que ameaça as vossas próprias casas?
III. Por que razão as centrais de biomassa não avançam em força? Além de produzirem energia, estas centrais provocariam a uma óbvia "limpeza" das nossas florestas e baldios. Aliás, atrevo-me a dizer que o interesse ambiental das centrais de biomassa é superior ao seu interesse energético.
Henrique Neto (Fonte: Jornal Expresso)
Faltam 'kits' de intervenção rápida – Só 1100 freguesias têm 'kit' para população combater fogos e muitas não têm como o levar até às chamas.
Nos fogos da última semana têm sido muitas vezes as populações a sair para combater as chamas, mas faltam kits de intervenção rápida contra fogos nas freguesias. E em muitas onde estes estão disponíveis faltam os meios para os transportar - tanque, motobombas e ferramentas - até aos incêndios. O alerta é da Associação Nacional de Freguesias, que diz que apenas "1100 freguesias estão equipadas com este equipamento" e "falta transporte" - há 4260 em Portugal.
Armando Vieira explica que as freguesias rurais aproveitaram bem os equipamentos, que começaram a ser distribuídos em 2007. "Mal há sinal de fogo, avançam como a primeira linha de defesa da floresta." O problema é que "em muitas faltam os meios de transporte que as freguesias, só por si, não conseguem adquirir."
E assim, por não haver uma "uma simples carrinha 4x4 disponível, estes equipamentos, que custaram oito milhões de euros, ficam muitas das vezes armazenados", lamenta o responsável na Associação de Municípios pela Protecção Civil, e presidente da autarquia de Poiares, Jaime Soares.
Em Poiares foi "a câmara a fornecer os carros e os bombeiros a formação", diz Jaime Soares. E se estes equipamentos "funcionassem em todo o País, porque os fogos são tarefa de todos, teríamos muito menos incêndios, com as populações equipadas e aptas a ajudar", conclui.
Até porque nas aldeias onde estão operacionais são facilmente manobrados pelos populares, diz o presidente da Junta de Freguesia da Cunha Baixa, Vítor Tenreiro. Exemplo disso foi o combate da noite de ontem.
O fogo iluminava a A25, a seguir ao nó de Mangualde, e as duas frentes obrigaram a dividir os poucos recursos. Enquanto os bombeiros se ocupam de uma, os populares da Cunha Baixa, num tractor com um kit contra fogos, apagaram a outra.
Ao lado, o presidente da Câmara de Mangualde, João Azevedo, reconhece que "no concelho, com muita floresta, nem todas as freguesias dispõem destes kits", mas já "decidiu equipar as que faltam".
Os kits de primeira intervenção são constituídos por um tanque de aço inox, com capacidade para 500 litros de água, uma motobomba, um dispositivo de produção de espumífero e ferramentas manuais, sobretudo pás e enxadas. Cada um custou oito mil euros e foram dados às juntas ao abrigo de um programa lançado em 2007 pelos ministérios da Administração e Interna e Agricultura.
Para Paulo Hortênsio, vice-presidente da Liga de Bombeiros, é altura de fazer uma avaliação da medida, "de carácter político", para ver quantos destes equipamentos estão a ser utilizados e quantos estão parados. "É preciso ver se o dinheiro foi bem investido, porque temos a impressão que depende muito da sensibilidade de cada junta."
Em Castanheira do Vouga, Águeda, o kit foi cedido há quase três anos à Associação Humanitária de Castanheira do Vouga, e "tem sido rentabilizado ao máximo". A junta também adquiriu a viatura 4x4 onde foi montado o equipamento, que "não tem descanso" por estes dias, contou Bruno Oliveira ao DN.
Amadeu Araújo (Fonte: DN Portugal)
Meios estão todos na elite da Protecção Civil – O responsável pela Protecção Civil na Associação Nacional de Municípios diz que Portugal tem uma estratégia errada para o combate aos incêndios. Jaime Soares diz que se criou uma super-estrutura na Autoridade Nacional da Protecção Civil que tem todos os meios e os bombeiros que estão no terreno não têm nada.
Criticas à organização do combate aos fogos numa altura em que por todo o país há centenas de bombeiros exaustos e sem ninguém que os substitua.
São longas horas de exposição a altas temperaturas, inalação de partículas, pouca ingestão de líquidos, má alimentação e muito pouco tempo de descanso. Problemas comuns à maioria das corporações de bombeiros que, na última semana, têm estado na primeira linha de combate aos fogos.
Os bombeiros estão exaustos e em muitos casos não há efectivos para os substituírem, nem equipamento adequado para todos os homens que estão na primeira linha de combate às chamas.
«Há cinco anos que não são entregues equipamentos, mas os topos de gama estão nas elites da Autoridade Nacional de Protecção Civil», diz Jaime Soares à TVI. O responsável da Protecção Civil da Associação Nacional de Bombeiros aponta o dedo á forma como está organizado o combate aos incêndios:
«Muitas dificuldades de equipamento, tremendas dificuldades estratégicas, porque Portugal preferiu criar elites numa estrutura de protecção civil, que têm tudo, e os bombeiros que estão no terreno não têm nada. Não é verdade que Portugal está efectivamente preparado, porque Portugal não está preparado».
Fonte: TVI24

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