O Programa Mundial de Alimentação (WFP, da sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que o aumento no preço dos alimentos em todo o mundo provocará uma redução na sua capacidade de alimentar as populações famintas e subnutridas. Num pronunciamento em Roma, onde fica a sede do WFP, o director executivo do Programa, Josette Sheeran, declarou que “a nossa capacidade de atender as pessoas está a ser reduzida justamente no momento em que a procura está a crescer... Nós estamos a ver uma nova face da fome, em que as pessoas estão a ser privadas do mercado de alimentos. Situações que antes não eram urgentes, agora o são.”
Numa nota à imprensa, o WFP declarava que para realizar o seu trabalho durante o ano corrente, seriam necessários 3,5 mil milhões de dólares, quinhentos milhões a mais do que foi estimado no ano passado. Estes recursos estão destinados a projectos aprovados para alimentar 73 milhões de pessoas em 78 países em redor do mundo. A nota destaca que estes recursos são para projectos de alimentação já planeados e não incluem situações de emergência imprevistas que podem surgir.
A nota à imprensa ressalta ainda que as populações mais pobres do planeta terão que gastar uma porção cada vez maior de seu mísero orçamento em alimentação. O WFP alerta que essas populações serão obrigadas a comprar menos comida, ou comidas menos nutritivas, ou terão que se apoiar em auxílios externos.
A lista dos países mais afectados inclui o Zimbabwe, Eritreia, Djibuti, Gâmbia, Togo, Chade, Camarões, Nigéria e Senegal, todos no continente africano. Serão afectados também o Haiti, Myanmar, Iémen e Cuba.
Segundo o WFP, entre os factos que estão pressionando o aumento no preço dos alimentos estão o aumento do preço do petróleo e o crescimento da procura por alimentos, especialmente por carne, na China e na Índia. O aumento da procura nestes países é resultado do rápido crescimento de seu poder económico.
Entretanto, os acontecimentos relacionados com as mudanças climáticas também tiveram um papel importante no aumento dos preços, além de outro factor que está em operação no mercado: o crescimento do uso das terras de cultivo para a produção de biocombustíveis.
No jornal Financial Times de 26 de Fevereiro, Mark Teirlwell apresentou alguns dados sobre a escala do problema no fornecimento de alimentos. Ele apontou que o preço dos alimentos subiu 75% em todo o mundo desde o ano 2000, com uma taxa de crescimento de 20% só no último ano. O consumo de carne e soja na China subiu 40% na última década, acompanhando o crescimento da sua economia. Ele aponta que, ao contrário do que ocorreu no passado, quando o aumento no preço dos alimentos foi contornado por um subsequente aumento na produção, isso não será possível desta vez.
Mark argumenta que a alta no preço do petróleo e sua consequência directa – a produção de biocombustíveis – causarão um impacto a longo prazo no fornecimento de alimentos. E, pior ainda, as plantações crescerão sobretudo para atender à crescente procura de biocombustíveis do que a procura por alimentos.
O facto do custo dos alimentos representar uma porção cada vez maior dos salários dos trabalhadores pobres nos assim chamados “países subdesenvolvidos” provocará uma deterioração ainda maior da sua já difícil situação. Thirlwell escreve: “enquanto a porção destinada à alimentação na cesta de consumo [orçamento familiar] dos países ricos, como os EUA, é relativamente baixa - na casa dos 10% -, ela atinge cerca de 30% na China e mais de 60% na África Subsaariana. Os países mais vulneráveis são aqueles de pequenos rendimentos na rede de importadores de alimentos. Preços mais altos nos alimentos fazem crescer ainda mais a pressão sobre os mercados de importação, que muitas vezes já estão inflados pela alta dos preços da energia. Muitas das mais pobres economias do mundo estão enquadradas nesta categoria e são extremamente dependentes de auxílios no campo da alimentação para suprir as suas necessidades. No entanto, o volume de recursos disponíveis para isto em todo o mundo está estagnado há duas décadas e, ainda pior, a quantidade de auxílio fornecida tende a cair conforme os preços sobem, já que grande parte destes recursos está comprometida em grandezas fixas de dólares.”
Ele aponta também que os mais expostos aos riscos são as populações miseráveis dos meios urbanos. Na maioria dos países da África subsaariana, uma grande parcela da população sobrevive baseada em agricultura de subsistência e a tendência é que os pobres deixem as suas terras e partam em direcção aos centros urbanos que crescem rapidamente.
A transformação dos campos de cultivo em áreas de produção de biocombustíveis está a ter um enorme impacto na África. Ghana, Benim, Etiópia, Uganda, Tanzânia, Zâmbia e África do Sul: todos esses países têm planos para transformar plantações de alimentos em áreas de produção de biocombustíveis.
Um relatório publicado no Independent do dia 16 de Fevereiro dizia que uma reunião da Rede Africana pela Biodiversidade (African Biodiversity Network) teria ocorrido na África do Sul para discutir a produção de biocombustíveis. O artigo citava o respeitado ambientalista nigeriano, Nnimmo Bassey, que dizia: “A África é um continente aberto e a indústria energética que tirar vantagem disto... Isto é um retorno às plantations colonialistas.”
E o artigo continuava: “Desde as savanas da África Ocidental até as florestas tropicais do Congo, as planícies da Tanzânia e as regiões selvagens da Etiópia, os governos estão a entregar enormes porções de terras férteis às companhias privadas que desejam converter o crescimento da biomassa das largas plantações em combustíveis líquidos para o mercado de exportação. Líderes africanos como Senegal Absoulaye Wade estão a prever uma ‘revolução verde’ e procurando, ansiosamente, por exportações lucrativas.”
As alterações climáticas também afectarão a produção de alimentos na África. Um relatório recente da Universidade de Stanford previa uma queda de aproximadamente um terço na produção de milho, como resultado das mudanças climáticas ocorridas nas duas últimas décadas.
Um estudo desenvolvido pelo Centro para a Economia e a Política Ambientais na África (CEEPA, na sigla em inglês), baseado na África do Sul, defende que a África perderá cerca de 4% das suas terras cultiváveis nos próximos 30 anos e terá perdido cerca de 18% até o fim do século.
A agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) declarou que cortará o montante de auxílios alimentares que ela fornece. Ela culpou o recente elevado aumento no preço das commodities, deixando-a com um deficit de 120 milhões de dólares no orçamento.
Amy Barry, porta-voz da Oxfam para os assuntos do comércio, citado no Observer em 2 de Março, observou: “mais e mais pessoas enfrentarão a falta de alimentos no futuro... Dado o que tem acontecido em função do aumento dos preços dos alimentos, devemos reflectir sobre o impacto que isso terá sobre as pessoas [nos países em desenvolvimento] que gastam até 80% de seus salários com comida”.
O impacto da crise económica do sistema capitalista terá um efeito devastador na vida das pessoas mais pobres do mundo.
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Numa nota à imprensa, o WFP declarava que para realizar o seu trabalho durante o ano corrente, seriam necessários 3,5 mil milhões de dólares, quinhentos milhões a mais do que foi estimado no ano passado. Estes recursos estão destinados a projectos aprovados para alimentar 73 milhões de pessoas em 78 países em redor do mundo. A nota destaca que estes recursos são para projectos de alimentação já planeados e não incluem situações de emergência imprevistas que podem surgir.
A nota à imprensa ressalta ainda que as populações mais pobres do planeta terão que gastar uma porção cada vez maior de seu mísero orçamento em alimentação. O WFP alerta que essas populações serão obrigadas a comprar menos comida, ou comidas menos nutritivas, ou terão que se apoiar em auxílios externos.
A lista dos países mais afectados inclui o Zimbabwe, Eritreia, Djibuti, Gâmbia, Togo, Chade, Camarões, Nigéria e Senegal, todos no continente africano. Serão afectados também o Haiti, Myanmar, Iémen e Cuba.
Segundo o WFP, entre os factos que estão pressionando o aumento no preço dos alimentos estão o aumento do preço do petróleo e o crescimento da procura por alimentos, especialmente por carne, na China e na Índia. O aumento da procura nestes países é resultado do rápido crescimento de seu poder económico.
Entretanto, os acontecimentos relacionados com as mudanças climáticas também tiveram um papel importante no aumento dos preços, além de outro factor que está em operação no mercado: o crescimento do uso das terras de cultivo para a produção de biocombustíveis.
No jornal Financial Times de 26 de Fevereiro, Mark Teirlwell apresentou alguns dados sobre a escala do problema no fornecimento de alimentos. Ele apontou que o preço dos alimentos subiu 75% em todo o mundo desde o ano 2000, com uma taxa de crescimento de 20% só no último ano. O consumo de carne e soja na China subiu 40% na última década, acompanhando o crescimento da sua economia. Ele aponta que, ao contrário do que ocorreu no passado, quando o aumento no preço dos alimentos foi contornado por um subsequente aumento na produção, isso não será possível desta vez.
Mark argumenta que a alta no preço do petróleo e sua consequência directa – a produção de biocombustíveis – causarão um impacto a longo prazo no fornecimento de alimentos. E, pior ainda, as plantações crescerão sobretudo para atender à crescente procura de biocombustíveis do que a procura por alimentos.
O facto do custo dos alimentos representar uma porção cada vez maior dos salários dos trabalhadores pobres nos assim chamados “países subdesenvolvidos” provocará uma deterioração ainda maior da sua já difícil situação. Thirlwell escreve: “enquanto a porção destinada à alimentação na cesta de consumo [orçamento familiar] dos países ricos, como os EUA, é relativamente baixa - na casa dos 10% -, ela atinge cerca de 30% na China e mais de 60% na África Subsaariana. Os países mais vulneráveis são aqueles de pequenos rendimentos na rede de importadores de alimentos. Preços mais altos nos alimentos fazem crescer ainda mais a pressão sobre os mercados de importação, que muitas vezes já estão inflados pela alta dos preços da energia. Muitas das mais pobres economias do mundo estão enquadradas nesta categoria e são extremamente dependentes de auxílios no campo da alimentação para suprir as suas necessidades. No entanto, o volume de recursos disponíveis para isto em todo o mundo está estagnado há duas décadas e, ainda pior, a quantidade de auxílio fornecida tende a cair conforme os preços sobem, já que grande parte destes recursos está comprometida em grandezas fixas de dólares.”
Ele aponta também que os mais expostos aos riscos são as populações miseráveis dos meios urbanos. Na maioria dos países da África subsaariana, uma grande parcela da população sobrevive baseada em agricultura de subsistência e a tendência é que os pobres deixem as suas terras e partam em direcção aos centros urbanos que crescem rapidamente.
A transformação dos campos de cultivo em áreas de produção de biocombustíveis está a ter um enorme impacto na África. Ghana, Benim, Etiópia, Uganda, Tanzânia, Zâmbia e África do Sul: todos esses países têm planos para transformar plantações de alimentos em áreas de produção de biocombustíveis.
Um relatório publicado no Independent do dia 16 de Fevereiro dizia que uma reunião da Rede Africana pela Biodiversidade (African Biodiversity Network) teria ocorrido na África do Sul para discutir a produção de biocombustíveis. O artigo citava o respeitado ambientalista nigeriano, Nnimmo Bassey, que dizia: “A África é um continente aberto e a indústria energética que tirar vantagem disto... Isto é um retorno às plantations colonialistas.”
E o artigo continuava: “Desde as savanas da África Ocidental até as florestas tropicais do Congo, as planícies da Tanzânia e as regiões selvagens da Etiópia, os governos estão a entregar enormes porções de terras férteis às companhias privadas que desejam converter o crescimento da biomassa das largas plantações em combustíveis líquidos para o mercado de exportação. Líderes africanos como Senegal Absoulaye Wade estão a prever uma ‘revolução verde’ e procurando, ansiosamente, por exportações lucrativas.”
As alterações climáticas também afectarão a produção de alimentos na África. Um relatório recente da Universidade de Stanford previa uma queda de aproximadamente um terço na produção de milho, como resultado das mudanças climáticas ocorridas nas duas últimas décadas.
Um estudo desenvolvido pelo Centro para a Economia e a Política Ambientais na África (CEEPA, na sigla em inglês), baseado na África do Sul, defende que a África perderá cerca de 4% das suas terras cultiváveis nos próximos 30 anos e terá perdido cerca de 18% até o fim do século.
A agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) declarou que cortará o montante de auxílios alimentares que ela fornece. Ela culpou o recente elevado aumento no preço das commodities, deixando-a com um deficit de 120 milhões de dólares no orçamento.
Amy Barry, porta-voz da Oxfam para os assuntos do comércio, citado no Observer em 2 de Março, observou: “mais e mais pessoas enfrentarão a falta de alimentos no futuro... Dado o que tem acontecido em função do aumento dos preços dos alimentos, devemos reflectir sobre o impacto que isso terá sobre as pessoas [nos países em desenvolvimento] que gastam até 80% de seus salários com comida”.
O impacto da crise económica do sistema capitalista terá um efeito devastador na vida das pessoas mais pobres do mundo.
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Fonte: World Socialist Web Site
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