A irregularidade do terreno e a
fúria das chamas traíram mais de 20 anos de experiência de Vítor Joaquim,
conhecido entre os amigos por Vítor ‘Mondinho’ – que ontem à tarde, no regresso
ao fogo em Figueiró dos Vinhos, depois de ter ido abastecer a viatura de
combate, perdeu o controlo da mesma e despistou-se. O veículo caiu por uma
ravina, que estava a ser consumida pelo fogo – e o bombeiro, de 55 anos, morreu
queimado.
‘Mondinho' saíra da zona do
incêndio, próximo da localidade de Azeitão, pelas 17h00, e já estava de volta
com mais água quando sofreu o acidente. Ainda tentou sair do veículo, mas
estava rodeado pelo fogo. Ficou carbonizado. O acidente deixou em choque a corporação
de Figueiró, tal como a família. A mulher, Fernanda, e os dois filhos, de 18 e
19 anos - também eles bombeiros em Figueiró, tiveram de receber acompanhamento
psicológico. "É um momento de grande dor e de luto, não só para os
bombeiros mas para o concelho", disse Rui Silva, presidente da Câmara,
onde a vítima trabalhava há vários anos como condutor no Departamento de Obras
Municipais.
O incêndio em Figueiró dos Vinhos
foi, ontem, o que maior proporção atingiu. Com início cerca das 15h00, o fogo
chegou a ter três frentes activas. As altas temperaturas, o vento e os acessos
difíceis, foram, na opinião de José Manuel Moura, comandante do CDOS, os
grandes inimigos dos bombeiros no local. "Em condições adversas como
estas, é muito difícil conseguir levar a melhor sobre as chamas", afirmou.
As populações de várias aldeias
temeram o pior quando o concelho foi coberto por uma extensa mancha de fumo e
as chamas se iam aproximando das casas. A meio da tarde, com o evoluir do
incêndio, as praias fluviais de Ana de Aviz e Fragas de S. Simão - com centenas
de pessoas nesta época do ano - tiveram que ser evacuadas mas, apenas,
"por precaução", sublinhou José Manuel Moura. Ao todo, foram
retiradas cerca de 600 pessoas. Uma habitação, na localidade de Lâmpada, foi
também evacuada devido ao aproximar das chamas. Uma carrinha de um habitante,
estacionada numa zona florestal, foi destruída pela fúria do fogo.
Com o cair da noite, a situação
foi melhorando. Os 285 elementos no terreno foram conseguindo travar o avanço
das chamas e, à hora de fecho desta edição, mantinha-se uma única frente
activa. Durante a tarde, os bombeiros contaram com a ajuda de quatro meios
aéreos.
Helena Silva
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Fonte: Correio da Manhã
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